Bibliologia - Parte 02

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8- EVANGELHO E ATOS – ESTRUTURA E ENSAIO

8.1 Introdução ao Novo Testamento

O Novo Testamento têm 27 livros. Foi escrito em grego, não no grego clássi¬co dos eruditos, mas no do povo comum, chamado Koiné. Seus 27 livros também estão classificados em 4 grupos, conforme o assunto a que pertencem: BIOGRAFIA. São os 4 Evangelhos; HISTORIA. É o livro de Atos dos Apóstolos. EPÍSTOLAS. São 21 as epístolas ou cartas. Vão de Romanos a Judas. 9 são dirigidas a igrejas (Romanos a 2 Tessalonicen¬ses); 4 são dirigidas a indivíduos (1 Timóteo a Filemom); 1 é dirigida aos hebreus cristãos; 7 são dirigidas a todos os cristãos, indistintamente (Tiago a Judas); PROFECIA. É o livro de Apocalipse ou Revelação. Trata da volta pessoal do Senhor Jesus a Terra e das coisas que precederão esse glorioso evento.


8.2 Os Evangelhos (Biografia)

Os quatro Evangelhos compreendem cerca de 46 por cento no Novo Testamento. A igreja primitiva colocou os Evangelhos no início do Cânon do Novo Testamento, não por serem eles os primeiros livros escritos, mas por serem o fundamento sobre o qual Atos e as Epístolas são edificados. Os Evangelhos ao mesmo tempo se originam do Antigo Testamento e o cumprem, bem como fornecem um cenário histórico e teológico para o restante do Novo Testamento.

A palavra grega euaggelion se refere às “boas novas” ou “alegres novas” acerca de Jesus Cristo, que foi oralmente proclamado. Mais tarde veio a ser também sido escritos depois, a igreja primitiva considerou somente os quatro Evangelhos, da forma que os conhecemos, como dotados de autoridade e divinamente inspirados. Foram distinguidos uns dos outros pela preposição grega kata (“segundo”), acompanhada pelo nome do escritor. A presente ordem dos quatro Evangelhos remonta pelo menos ao final do segundo século, e cria-se ser esta a ordem em que eles foram escritos. Embora haja quem teorize que os Evangelhos foram originalmente escritos em Aramaico, não há evidência real para tal posição. Os habitantes da Palestina eram primariamente bilíngües (aramaico e grego), e muitos eram trilíngües (hebraico ou latim). O grego, porém, era o idioma comum de todo o império, e por isso o mais adequado veículo para as narrativas evangélicas.

Os quatro relatos complementares fornecem um retrato composto da pessoa do Salvador, operando juntos para fornecer profundidade clareza à nossa compreensão da mais singular figura da história humana. Neles Jesus é visto como divino e humano, o Servo soberano, O Deus-homem.

8.2.1 O Livro do Evangelho de Mateus

O Evangelho de Mateus foi redigido principalmente para os judeus e anuncia a boa nova de que Jesus é o salvador prometido, o Messias ou Cristo tão longamente esperado pelos judeus. Com Jesus cumpriram-se todas as promessas feitas por Deus ao seu povo no Antigo Testamento. O evangelho não traz o nome do autor, mas desde os primeiros tempos se considerou que foi escrito por Mateus, o cobrador de impostos que se tornou um dos doze amigos íntimos de Jesus. Se não escreveu todo o evangelho, é pelo menos quase certamente o autor da coleção de discursos de Jesus incluída na obra. O evangelho de Mateus foi escrito entre 50 e 100 d.C. Grande parte do seu conteúdo é muito semelhante ao evangelho de Marcos. Mas apresenta com exclusividade dez parábolas, e certo número de episódios, bem como cinco grandes discursos. Começa com a genealogia e o nascimento de Jesus (caps. 1-2). A seguir descreve a obra de João Batista, o batismo de Jesus e o tempo de tentação passado por Jesus no deserto (caps. 3-4). Grande parte do evangelho é dedicada à pregação, aos ensinamentos e às curas operadas por Jesus na Galiléia. Mateus no-lo apresenta como grande mestre, que tem muitas coisas a dizer sobre o “reino” de Deus, sobre seu reino no mundo (caps. 4; 14­18). O ensinamento de Jesus divide-se em cinco grandes seções: Caps. 5-7: o sermão da montanha, que responde a muitas perguntas sobre o reino e constitui a base do ensinamento moral de Jesus. Cap. 10: instruções dadas por Jesus aos doze antes de enviá-los em missão. Cap. 13: parábolas sobre o reino. Cap. 18: Jesus explica o que significa segui-lo. Caps. 24-25: palavras de Jesus sobre a queda de Jerusalém, o fim desta era e o advento de nova era. Depois Mateus descreve a viagem de Jesus da Galiléia a Jerusalém (caps. 19-20), e os acontecimentos da última semana naquela cidade. (caps. 21-27). A narrativa da morte de Jesus na cruz é seguida pela da ressurreição, ou seja, como ele voltou à vida (cap. 28).

8.2.2 O Livro do Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos, o segundo dos quatro evangelhos que contam a vida de Jesus, mas provavelmente o primeiro em ordem cronológica, é evangelho de ação, cheio de vida, que se concentra sobre o que Jesus fez e os lugares onde andou, e não tanto sobre o que ele disse e pensou. É o evangelho mais breve, composto de apenas dezesseis capítulos, e talvez também o mais antigo, provavelmente escrito entre 65-70 d.C. Os escritores dos primeiros séculos do cristianismo afirmam que é obra de João Marcos, com base no que ele ouvira do apóstolo Pedro. O nome de João Marcos ocorre freqüentemente nos Atos e nas cartas do Novo Testamento. Tomou parte da primeira viagem missionária de Paulo e mais tarde esteve com Pedro. Após curta introdução dedicada a João Batista, ao batismo e às tentações de Jesus, os primeiros nove caps. ocupam-se das curas e do ensinamento de Jesus na Galiléia. Marcos mostra como os discípulos começaram gradativamente a compreender melhor o Mestre, enquanto os seus inimigos se tornavam cada vez mais hostis. Os caps. 11-15 descrevem a última semana de Jesus em Jerusalém e são seguidos pela narrativa da sua ressurreição (cap. 16).
8.2.3 O Livro do Evangelho de Lucas

O evangelho de Lucas, a terceira das quatro narrativas da vida de Jesus, é o mais minucioso de todos. A história do crescimento e da difusão do cristianismo após o retorno de Jesus ao céu o mesmo autor a continua no livro dos Atos. Os dois livros foram dedicados a um funcionário romano de nome Teófilo. O autor do evangelho procurou informar-se bem sobre a história e os fatos, e expõe o que aconteceu na Palestina durante a vida de Jesus. A tradição afirma que toda a obra foi escrita por Lucas, o médico que acompanhou Paulo em algumas de suas viagens. Começa com a história do nascimento e da infância de João Batista e de Jesus (caps. 1-2), dando muitas informações que se encontram só neste evangelho. Os caps. 3 - 9 referem-se ao batismo e às tentações de Jesus, bem como à sua pregação e seus ensinamentos na Galiléia. A viagem de Jesus da Galiléia a Jerusalém ocupa 9.51–19.46. Algumas parábolas de Jesus incluídas nesta parte são exclusivas de Lucas, como a do bom samaritano, a do filho pródigo e a do rico insensato. A última semana de Jesus em Jerusalém é narrada de 19.47 a 23.56. Finalmente, o cap. 24 conta como Jesus ressuscitou e voltou ao céu.

8.2.4 O Livro do Evangelho de João

O evangelho de João, a quarta história neotestamentária da vida de Jesus, difere bastante dos três anteriores. Provavelmente foi escrito por último, talvez em torno de 90 d.C. Preocupa-se mais com o sentido dos fatos que com os fatos em si, os quais presumivelmente já eram bem conhecidos na época. Começa apresentando Jesus como a “Palavra” de Deus, existente antes do tempo e, contudo nascida no tempo sob forma humana. O evangelho foi escrito “para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20.31). O evangelho provavelmente contém as recordações de João, o irmão de Tiago e um dos doze amigos mais íntimos de Jesus. No texto João não é mencionado pelo nome e aparece só como “o discípulo que Jesus amava”. Não está excluído que tenha sido redigido por um secretário. Depois da introdução, que apresenta Jesus como a “Palavra” de Deus (Jo 1.1-18), o evangelho prossegue descrevendo certo número de milagres chamados “sinais” ou “obras” de Jesus, que mostram que ele é realmente o Salvador prometido (caps. 2-12). A história da sua pregação e dos seus ensinamentos é redigida de tal modo que cada milagre é seguido de explicação e discussão. João também descreve como alguns creram em Jesus e outros o rejeitaram. Não menciona nenhuma de suas parábolas. Os caps. 13-19 tratam dos últimos dias de Jesus com os discípulos em Jerusalém, transmitindo-nos as suas palavras de encorajamento e os seus ensinamentos dados às vésperas de sua morte na cruz. Os caps. 20-21 narram algumas aparições de Jesus aos discípulos depois da ressurreição. João vê nos milagres “sinais” que mostram quem era Jesus. Além disso, utiliza uma série de realidades comuns para indicar verdades ocultas sobre Jesus: água, pão, luz, pastor e videira. Neste evangelho aparecem as famosas afirmações “Eu sou...”, recordando a definição de Deus dada no livro do Êxodo (cap. 3): “Eu sou aquele que é”. João apresenta Jesus como o caminho, a verdade e a vida.

8.2.5 O Livro dos Atos dos Apóstolos (Histórico)

O livro dos Atos continua a história iniciada no evangelho de Lucas, sendo obra do mesmo autor. Fala principalmente dos “atos” dos apóstolos Pedro e Paulo. Por causa da ênfase dada ao poder de Deus, às vezes é com razão chamado de “Atos do Espírito Santo”. Conta como os discípulos de Jesus difundiram a boa nova primeiramente em Jerusalém e depois nas regiões circunjacentes da Judéia e de Samaria, até “aos confins do mundo”. Cobre um período de cerca de trinta anos, desde o início da Igreja, no dia de Pentecostes, até a prisão de Paulo em Roma. Os Atos foram escritos entre 60 e 85 d.C. Os primeiros sete capítulos descrevem como o movimento cristão teve inicio na própria Jerusalém com a vinda, em poder, do Espírito Santo no dia de Pentecostes. O grupo cristão começou a cumprir a ordem de Jesus de ensinar e pregar. A Igreja crescia e se difundia. Esta parte também descreve como Estêvão, um dos primeiros cristãos, morreu pela sua fé. Os caps. 8-12 narram como o cristianismo, inicialmente devido à perseguição, propagou-se na Judéia (região em torno de Jerusalém) e na Samaria (onde pessoas pertencentes a uma nação inimiga e desprezada pelos judeus foram acolhidas com alegria na Igreja). A dramática conversão de Saulo (ou Paulo) na estrada de Damasco 'é seguida da narrativa de como Pedro entendeu que a mensagem cristã era destinada a todas as nações e não só aos judeus. A parte restante do livro trata das atividades missionárias de Paulo e das suas viagens pelo mundo mediterrâneo, dos seus processos e da sua prisão em Roma (caps. 13-28).


9 – EPISTOLAS PAULINAS

Introdução

As Epístolas Paulinas foram os primeiros escritos do Novo Testamento. São 13 Epístolas na sua totalidade, de Romanos a Filemom. As mesmas fo¬ram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem cronológica, é consenso entre teólogos, que o primeiro livro do Novo Testamento é o de 1 Tessalonicenses, escrito por volta de 52 d.C.; 2 Timóteo foi escrita em torno de 67 d.C., pouco antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Essas Epístolas foram também as primeiras aceitas como canônicas. Pedro chama os escritos de Paulo de "Escrituras" - título aplica¬do somente à Palavra inspirada de Deus! (2Pe 3.15,16). Paulo é um personagem tão importante no Novo Testamento e na história da igreja que tem sido chamado de o segundo fundador do cristianismo. É claro que isso não é a verdade, pois desconsidera a continuidade entre Jesus e Paulo e menospreza injustamente as contribuições de homens tais como Pedro, João e Lucas. Mas não há dúvida de que Paulo desempenhou um papel vital no crescimento e estabelecimento da igreja e na interpretação e aplicação da graça de Deus em Cristo.

Essas Epístolas constituem quase um quarto do Novo Testamento, colocando Paulo logo atrás de Lucas em porcentagem do Novo Testamento escrito por um único indivíduo. E, caso se acrescentem os 16 capítulos de Atos (13-28) que são quase inteiramente dedicados a Paulo, este aparece em quase um terço do Novo Testamento.

Quem foi esse homem chamado Paulo? O próprio Paulo apresenta um esboço rudimentar de sua origem e formação, mas em suas Epístolas, esses dados acham-se dispersos. Os detalhes históricos básicos estão convenientemente agrupados nos discursos que Paulo proferiu (relatados por Lucas) diante de uma multidão hostil de judeus nos degraus do templo (At 22.1-21), do rei Agripa II e do procurador Romano Festo (At 26.2-23).

9.1 A Epístola aos Romanos

Paulo escreveu esta carta aos cristãos de Roma em torno do ano 57 d.C., depois das chamadas três viagens missionárias principais. Ainda não tinha viajado a Roma, mas pretendia fazê-lo. Enviou assim a famosa epístola a fim de preparar a comunidade cristã da capital do mundo, comunidade da qual conhecia alguns membros (cf. cap. 16), para a sua visita. A carta expõe amplamente a concepção paulina da mensagem cristã, e foi redigida depois das cartas aos Tessalonicenses, aos Gálatas e aos Coríntios. Poderíamos defini-la como o manifesto de Paulo, pois nos dá a conhecer de maneira mais completa, clara e raciocinada, o seu modo de entender as verdades cristãs fundamentais. Começa saudando os cristãos de Roma e lhes anuncia aquilo que será a base da sua carta: “... porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: 'O justo viverá da fé' “ (Rm 1.17). A seguir demonstra que todos, judeus e não-judeus, precisam de Deus por causa de seus pecados. Podemos ser justificados perante Deus pela fé em Jesus Cristo (caps. 3-4). O perdão gratuito e a nova vida dada por Deus mediante Cristo, a importância das leis divinas e da ação do Espírito divino na vida de todo cristão constituem o objeto dos caps. 5-8, enquanto os caps. 9-11 tratam da posição atual de Israel no plano de Deus. Paulo acha que os judeus não rejeitarão Jesus para sempre. Depois continua (caps. 12-15) com algumas francas exortações a propósito do comportamento dos cristãos: relações com as autoridades, deveres recíprocos e modo de viver num mundo não-cristão. Por fim esclarece algumas complicadas questões de consciência. A carta termina de maneira característica, com saudações pessoais a amigos e palavras de louvor a Deus (cap. 16).
9.2 A Primeira Epístola aos Coríntios

Foi escrita por Paulo aos cristãos de Corinto, cidade grega fervilhante de gente das mais variadas nacionalidades e notória pelo seu comércio, sua cultura, suas muitas religiões e pela sua imoralidade. A Igreja de Corinto fora fundada pelo Apóstolo durante a sua permanência de dezoito meses na cidade, no decurso da segunda viagem missionária. Agora Paulo recebia más notícias e, quando alguns membros chegaram de Corinto para pedir-lhe conselhos, entregou-lhes esta carta importante, que trata das principais questões daquela comunidade eclesial: divisões (caps. 1-4), problemas morais e de vida familiar (caps. 5-7), inclusive um caso de incesto e de cristãos que intimavam a juízo outros cristãos perante tribunais pagãos. Paulo também resolveu um problema de consciência que preocupava os cristãos a respeito do alimento (caps. 8-10). A maior parte da carne vendida no comércio tinha sido oferecida antes aos ídolos. Era permitido comê­la? Os caps. 11-14 propõem princípios para culto ordenado na igreja, especialmente durante a ceia do Senhor. Tratam também dos dons especiais concedidos por Deus ao seu povo. A carta delineia um quadro claro, nem sempre edificante, do modo como os primeiros cristãos se reuniam e se comportavam. Explica também o sentido da ressurreição de Jesus e de todos aqueles que morrem confiando nele (cap. 15). No último capítulo o Apóstolo fala à igreja de Corinto sobre uma coleta que faz para os cristãos pobres da Judéia e termina com saudações pessoais. O capo 13 em louvor da caridade, o dom mais precioso concedido por Deus ao seu povo, é um dos textos paulinos mais famosos.

9.3 A Segunda Epístola aos Coríntios

Paulo ditou-a cerca de um ano depois da primeira (em torno de 56 d.C.), num momento em que as relações entre ele e a Igreja de Corinto tinham chegado a ponto crítico. Durante aquele ano alguns cristãos daquela comunidade tinham-no atacado duramente e, ao que parece, Paulo lhes fizera curta visita. A carta mostra o seu grande desejo de estar bem com esta igreja. Nos caps. 1-7 recorda a história das suas relações com a comunidade de Corinto, explica o sentido das palavras severas usadas anteriormente, manifesta sua gratidão pelas mudanças verificadas e se propõe fazer a terceira visita, mais tranqüila. A seguir pede aos destinatários que demonstrem generosidade para com as necessidades dos cristãos da Judéia (caps. 8-9). Nos caps. finais (10-13) Paulo defende com ardor seu título de apóstolo. Numerosos cristãos da cidade tinham questionado o seu direito a este título. Esta carta, com suas efusões, às vezes tempestuosas, outras vezes idílicas, é das mais pessoais de Paulo. Nela deixa transparecer todo seu amor e preocupação pela Igreja e revela seus sofrimentos e sua fé inabalável.

9.4 A Epístola aos Gálatas

Esta carta representa um dos primeiros esboços do pensamento paulino, mais tarde desenvolvido na carta aos Romanos. Talvez seja de aproximadamente 57 d.C. (outros pensam que foi escrita cerca de dez anos antes). Foi enviada a um grupo de igrejas da província romana da Galácia (atual Turquia central), algumas das quais foram visitadas por Paulo. Ele havia-lhes ensinado que o dom divino da nova vida era destinado a todos que cressem e muitos ouvintes haviam correspondido. Mas depois vieram doutores judeus afirmando que os cristãos deviam observar as leis do Antigo Testamento. Por isto a carta responde a uma pergunta de vital importância: Os não-judeus devem obedecer à lei judaica de Moisés para serem verdadeiros cristãos? Paulo começa defendendo o seu direito de apóstolo, que fala com autoridade divina, investido de missão especial junto aos não-judeus (caps. 1­2). A seguir argumenta (caps. 3-4): Somos justificados unicamente pela fé em Cristo. A vida nova é dom de Deus para todos aqueles que crêem. Nada podemos fazer para ganhá-la por nós mesmos. Conclui mostrando que a conduta dos cristãos deriva do amor, que é fruto da fé em Cristo (caps. 5-6). A carta aos Gálatas é uma peroração sobre a liberdade cristã: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5.1).

9.5 A Epístola aos Efésios

Trata-se provavelmente de carta “circular” dirigida a um grupo de igrejas da região da atual Turquia ocidental. A igreja de Éfeso era a mais importante do grupo. À semelhança das cartas aos Filipenses, aos Colossenses e a Filemom, Paulo escreveu-a da prisão, provavelmente em Roma, no início da década de 60 d.C. O grande tema é o plano de Deus de “reconciliar em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1.10). Começa com esta idéia da unidade (caps. 1-3). Deus Pai escolheu o seu povo. Jesus, o Filho, libertou-o dos pecados e destruiu as barreiras raciais, religiosas e culturais. O Espírito de Deus age na vida de todo cristão para levá-lo de vitória em vitória. A segunda parte da carta convida os fiéis a viver de modo tal que sua união em Cristo possa transparecer do seu amor recíproco. Devemos sair das trevas e caminhar na luz! Paulo usa uma série de imagens para ilustrar esta união em Cristo: o corpo, o edifício, as relações entre marido e mulher. Toda a vida e experiência humana são vistas na luz de Cristo, do seu amor, da sua morte na cruz, do seu perdão e da sua pureza. Paulo termina convidando os cristãos a vestirem a “armadura de Deus para que possam resistir no dia mau e sair firmes de todo o combate”.

9.6 A Epístola aos Filipenses

Paulo fundou a igreja grega de Filipos, a primeira igreja da Europa, em torno do ano 50 d.C. Escreveu esta carta da prisão, segundo alguns, de Roma, em torno de 61-63 d.C., segundo outros, de Éfeso, cerca de 54 d.C. Explica a sua situação aos filipenses e agradece-lhes pelos presentes enviados. Exorta-os a perseverarem na fé, a não serem orgulhosos e a seguirem o exemplo de Jesus, que “foi humilde e percorreu o caminho da obediência”. Descreve a alegria e a paz daqueles que confiam em Cristo. Embora estivesse preocupado com os falsos doutores que agiam na igreja de Filipos, transparece claramente o seu afeto por aqueles cristãos. Não obstante o fundo escuro da prisão, a carta está cheia de alegria, de confiança e de esperança cristã.

9.7 A Epístola aos Colossenses

Paulo ditou na prisão esta carta aos cristãos de Colossos, provavelmente em Roma, em torno do ano 61 d.C. ainda que não tivesse fundado esta igreja (região ocidental da Turquia), preocupava-se com ela, porque quem a iniciou foi um dos seus convertidos, Epafras, e ainda porque em Roma encontrara um escravo fugitivo dessa cidade. Fora informado de que em Colossos agiam falsos doutores, os quais afirmavam que para conhecer a Deus era necessário adorar estranhos poderes espirituais e praticar determinados ritos. Esses homens introduziam idéias derivadas de outras filosofias e religiões. Por isso Paulo expõe a verdadeira mensagem cristã (Cl 1–2.19). Jesus, e só ele, pode salvar o homem e dar­lhe a verdadeira vida. Por meio de Jesus Cristo Deus criou o mundo. Prossegue explicando o que significa esta vida nova na prática (Cl 2.20–4.6). Ela influi sobre tudo o que fazemos e dizemos, sobre os sentimentos e sobre as relações domésticas, profissionais e eclesiais. A carta termina com notícias pessoais (Cl 4.7-18).

9.8 A Primeira Epístola aos Tessalonicenses

Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia. Paulo fundara uma igreja aí durante a sua segunda viagem missionária. Depois de ter chegado a Corinto, soube através de Timóteo que os judeus continuavam a criar problemas por causa do grande interesse dos não-judeus pela mensagem de Paulo. Em resposta, Paulo escreveu esta carta. É uma das suas primeiras cartas que nos foi conservada, tendo sido escrita em torno do ano 50 d.C., apenas vinte anos depois da morte de Jesus. Paulo procura encorajar e tranqüilizar os cristãos de Tessalônica. Agradece a Deus pelas boas notícias recebidas a respeito deles e lembra a sua visita (caps. 1-3). Exorta-os a viver de modo a agradecer a Deus (1Ts 4.1-12) e trata de alguns problemas sobre a esperada volta de Jesus (1Ts 4.13–5.11). Quando retomará? O que acontecerá aos cristãos antes da sua volta? Termina a carta com algumas instruções práticas, oração e saudações (1Ts 5.12-28).

9.9 A Segunda Epístola aos Tessalonicenses

Apesar da primeira carta de Paulo (1ª Carta aos Tessalonicenses, acima), os cristãos de Tessalônica continuavam confusos quanto à volta de Jesus. Alguns pensavam que o dia do seu retorno já tinha chegado. Nesta segunda carta, escrita poucos meses depois da primeira, Paulo lembra que a volta de Jesus será precedida por um tempo de grande maldade (cap. 2). Termina exortando os cristãos a guardar a fé e a trabalhar (cap. 3).

9.10 A Primeira Epístola a Timóteo

Timóteo era um jovem cristão, filho de pai grego e mãe judia, originário de Listra, cidade da província da Galácia (região central da Turquia). Viajou com Paulo e ajudou nas suas viagens missionárias posteriores. Era tímido e não gozava de boa saúde, necessitando de ser encorajado e apoiado. Quando Paulo lhe escreveu, Timóteo cuidava da igreja de Éfeso. A carta dá muitos conselhos e orientações para a vida eclesial. Adverte contra falsas doutrinas, em particular contra uma mistura de idéias judaicas e gnósticas sobre a salvação e sobre a natureza do mundo físico. O destinatário recebe instruções sobre a organização e o governo da igreja (caps. 1-3) e a carta termina com recomendações mais pessoais a Timóteo sobre seu serviço na igreja (caps. 4-6).

9.11 A Segunda Epístola a Timóteo

Grande parte desta carta contém conselhos pessoais de Paulo a Timóteo. Exorta Timóteo a permanecer fiel à boa nova de Jesus Cristo e a perseverar na atividade de mestre e evangelizador, apesar da oposição e da perseguição. Acautela-o contra discussões inúteis e encoraja-o com o exemplo de sua própria fé, que continua firme depois de uma vida cheia de sofrimentos: “Terminei minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça” (2Tm 4.7-8).
9.12 A Epístola a Tito

Tito era cristão grego, que ajudou Paulo no seu trabalho missionário. Paulo escreveu esta carta a Tito em Creta, onde este ajudava na supervisão da igreja. Esta comunidade tinha problemas semelhantes aos enfrentados por Timóteo em Éfeso: doutrinas falsas e discussões inúteis. Paulo lembra ao discípulo que os chefes cristãos devem ter bom caráter (cap. 1). Explica os deveres que tem para com os diferentes grupos de cristãos (cap. 2) e termina com exortações e conselhos gerais sobre o comportamento dos cristãos.

9.13 A Epístola a Filemom

É carta particular de Paulo ao seu amigo Filemom, cristão convertido de Colossos (na Turquia ocidental). Filemom possuía um escravo de nome Onésimo que fugira. Onésimo encontrara Paulo na prisão e tornara-se cristão. Paulo escreve ao amigo para exortá­lo a perdoar ao fugitivo e acolhê-lo como irmão cristão. A carta provavelmente foi levada a Colossos pelo próprio Onésimo, juntamente com a carta dirigida à igreja local.



10- HEBREUS – EPÍSTOLAS GERAIS E APOCALIPSE

10.1 Epístola aos Hebreus

Na versão do Pe. Figueiredo é intitulada Epístola de S. Paulo. Na versão de Almeida, é anônima, porque nos manuscritos mais antigos seu autor não é mencionado. Figueiredo baseou-se no título da Epístola como se encontra na Vulgata, “Epístola Pauli ad Hebraeos”. A Igreja Oriental aceitou, desde o princípio, a autoria paulina para esta Epístola. Só no 4º Século a Igreja Ocidental aceitou-a como obra de Paulo. Eusébio considerava Paulo seu autor. Tertuliano chamou-a Epístola de Barnabé. Clemente de Alexandria pensava que Paulo a escreveu em hebraico, e Lucas a traduziu para o grego (é escrita em excelente grego). Orígenes disse que os pensamentos dela eram os de Paulo, e considerava este seu provável autor, mas acrescentou, “Quem a escreveu, só Deus sabe com certeza”. Lutero supunha fosse Apolo, não havendo para esta opinião nenhuma evidência antiga. Ramsay sugere o nome de Filipe. Harnack e Rendel Harris sugerem Prisca. Alguns a atribuem a Lucas, ou Silas, ou Clemente de Roma. Ferrar Fenton pensa que somente Paulo podia escrevê-la, e que o fez, originalmente, em hebraico, mandando algum dos seus auxiliares traduzi-la para o grego. Em geral, a opinião tradicional e multissecular, ainda hoje largamente admitida, é a favor de Paulo.

Evidentemente, foi escrita antes da destruição de Jerusalém, ocorrida em 70 d.C. Se Paulo a escreveu, parece provável que o fez de Roma, 62-64 d.C. O sentido natural, ainda que não necessário, da frase “os da Itália vos saúdam”, 13.24, é que a carta foi escrita da Itália. Timóteo estava com o autor, 13.23. Fora com Paulo a Jerusalém, At 20.4, de onde o acompanhou a Roma, Cl 1.1. Acabara de ser solto, e Paulo planejava enviá-lo de volta ao oriente, Fp 2.19, 24, esperando que em breve ele também iria. E parece que ele e Timóteo tinham o plano de voltar a Jerusalém, 13.23, uma vez que os líderes, a quem a carta se dirige, eram amigos de Paulo, o que se poderia inferir de 13.19. Esta Carta pode ter sido escrita, mais ou menos, ao tempo da Epístola aos Filipenses.


10.1.1 Epístolas Gerais

A Epístola de Tiago está em primeiro lugar no grupo de sete livros do Novo Testamento denominado as Epístolas Gerais ou Católicas. As igrejas evangélicas estiveram hesitantes, por razões óbvias, em usar o termo “católicas” na descrição destas sete cartas. O termo em si é uma transliteração do adjetivo grego katolikós, que significa “geral' ou “universal”. Dois adjetivos latinos (generalis, universalis) traduzem a palavra grega perfeitamente, mas a Vulgata transliterou o grego como catholicas. É da Vulgata que o título Epístolas Católicas tornou-se uso comum entre os tradutores e estudiosos.

O termo católicas foi pela primeira vez aplicado às sete cartas como um grupo por Eusébio (265-340 d.C.), embora escritores mais antigos tenham chamado as cartas individuais deste grupo de “gerais”. Um comentário anônimo do sétimo século sobre a Epístola de Tiago afirma que o termo foi usado porque estas cartas são encíclicas; ou seja, não são endereçadas a igrejas ou pessoas individuais, mas escritas coletivamente a todas as igrejas. Esta descrição geral vale para Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 João e Judas. 2 e 3 João, contudo, são endereçadas a um grupo, ou pessoa, particular e, assim, não caem dentro da definição. Mas estas duas cartas foram consideradas como anexas a 1 João e foram agrupadas juntamente com ela.

A posição destas sete cartas, nas edições modernas do Novo Testamento, segue a ordem da Vulgata. Esta é a ordem geralmente adotada pela igreja ocidental (Evangelhos, Atos, Epístolas Paulinas, Epístolas Gerais, Apocalipse), que parece representar a primazia que a igreja ocidental deu a Paulo. Na igreja oriental, estas sete cartas seguiam-se a Atos. Como um grupo de oito (chamado praksapóstoloi), elas normalmente eram colocadas entre os Evangelhos e as cartas paulinas, mas às vezes depois de Paulo. Os dois grandes manuscritos unciais gregos do quarto século diferem neste ponto. O Vaticanus tem os Evangelhos, Atos, Epístolas Gerais e Epístolas Paulinas (faltam, neste manuscrito, Hebreus 9.14-13.25, as Pastorais, Filemom e Apocalipse). O Sinaiticus tem os Evangelhos, Epístolas Paulinas, Atos, Epístolas Gerais e Apocalipse.

10.2 Epístola de Tiago

Tiago é dirigida “às doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1.1) e é claro nos vs. 1.19 e 2.1,7 que esta saudação se refere aos cristãos hebreus que estavam fora da Palestina. Seu lugar de reunião é chamado de “sinagoga” no texto grego de Tg 2.2, e toda a epístola reflete o pensamento e expressões judaicas (Tg 2.19, 21; 4.11-12; 5.4, 12). Não há referências à escravidão ou idolatria, e isso também se adapta a uma leitura originalmente judaica. É possível que os destinatários fossem os primeiros convertidos em Jerusalém, que, após a morte de Estêvão, foram dispersos pela perseguição (At 8.1) até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria e além (At 11.19). Isso explicaria a ênfase inicial da carta quanto ao sofrer com alegria as provações que testam a fé e que demandam perseverança (Tg 1.2-12), o conhecimento pessoal que Tiago demonstra ter pelos crentes “dispersos”, e o tom de autoridade da carta. Como pastor da igreja de Jerusalém, Tiago escreve às suas ovelhas dispersas.

Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi martirizado em 62 d.C. (Hegesipo, citado em Eusébio, fixou a data da morte de Tiago em 66 d.C.). Aqueles que o aceitam como autor da epístola têm sugerido uma data para sua redação entre 45 d.C. e o final de sua vida. Entretanto, vários fatores indicam que essa epístola pode ter sido escrita (cerca de 46-49 d.C.).

10.3 Primeira Epístola de Pedro

A Igreja primitiva reconhecia universalmente a autenticidade e a autoria de 1 Pedro. As evidências internas apóiam esse consistente testemunho externo de várias maneiras. O nome do apóstolo Pedro é dado em 1Pe 1.1, e há semelhanças definitivas entre certas expressões nesta epístola e os sermões de Pedro, conforme registrados no Livro de Atos (1Pe 1.20 e At 2.23; 1Pe 4.5 e At 10.42). Duas vezes em Atos Pedro usou a palavra grega xy/on, “madeiro, árvore”, para falar sobre a cruz, e esse uso distinto é encontrado em 1 Pedro (cf. At 5.30; 10.39; 1Pe 2.24). A epístola contém um número de alusões aos acontecimentos da vida de Cristo que tiveram especial importância para Pedro (1Pe 2.23; 3.18; 4.1; 5.1; cf. 5.5 e Jo 13.4).

Entretanto, os críticos desde o século dezenove vêm desafiando a autenticidade de 1 Pedro por várias razões. Uns dizem que 1Pe 1.1-2 e 4.12-5.14 foram acréscimos feitos mais tarde que tomaram um pronunciamento anônimo ou um sermão batismal em uma epístola de Pedro. Outros argumentam que os sofrimentos experimentados pelos leitores desta epístola devem se referir à perseguição dos cristãos que ocorreu depois da época de Pedro, nos reinados dos imperadores Domiciano (81-96 d.C.) e Trajano (98-117 d.C.). Não há base para o primeiro argumento e o segundo argumento deduz falsamente que os cristãos não estavam sendo insultados por causa da sua fé durante a vida de Pedro. Um outro desafio afirma que a qualidade do grego desta epístola é muito elevada para um Galileu como Pedro. Mas os galileus eram bilíngües (aramaico e grego), e escritores como Mateus e Tiago eram muito capacitados no uso do grego. É também provável que Pedro tenha usado Silvano como escriba (1Pe 5.12; Paulo o chama de Silvano em 2Co 1.19; 1Ts 1.1; 2Ts 1.1; Lucas o chama de Silas em At 15.40-18.5), e Silvano pode ter atenuado o discurso de Pedro nesse processo.
Esta epístola foi dirigida aos cristãos da Ásia Menor, indicando que o evangelho se espalhou por regiões não-evangelizadas quando Atos foi escrito (Ponto, Capadócia, Bitínia; 1Pe 1.1). É possível que Pedro tenha visitado e ministrado em algumas dessas áreas, mas não há evidência. Ele escreveu esta epístola em resposta às notícias da crescente oposição aos crentes na Ásia Menor (1Pe 1.6; 3.13-17; 4.12-19; 5.9-10). A hostilidade e a suspeita aumentavam contra os cristãos no Império, e eles estavam sendo insultados e maltratados por causa de seu estilo de vida e conversa subversiva sobre outro Reino. O Cristianismo ainda não tinha recebido a interdição oficial romana, mas o palco estava sendo montado para a perseguição e martírio no futuro próximo.

A vida de Pedro foi mudada drasticamente após a ressurreição, e ele ocupava um papel central na Igreja primitiva e no anúncio do evangelho para os samaritanos e gentios (At 2-10). Após o Concílio de Jerusalém, registrado em At 15, bem pouco se diz em relação às atividades de Pedro. Ele, evidentemente, viajou extensivamente com sua esposa (1Co 9.5) e ministrou em várias províncias romanas. Segundo a tradição, Pedro foi crucificado de cabeça para baixo em Roma antes da morte de Nero, em 68 d.C. Esta epístola foi escrita em Babilônia (1Pe 5.13), mas os estudiosos estão divididos a respeito dessa parte se referir literalmente à Babilônia na Mesopotâmia ou simbolicamente a Roma. Não há tradição de que Pedro foi para a Babilônia, e, na sua época, ela possuía poucos habitantes. Por outro lado, a tradição, consistentemente, indica que Pedro passou seus últimos anos de vida em Roma. Como um centro de idolatria, o termo “Babilônia” era uma designação figurada apropriada para Roma (o uso de Babilônia em Ap 17; 18).

10.4 Segunda Epístola de Pedro

Nenhum outro livro no Novo Testamento cria mais problemas de autenticidade do que 2 Pedro. Diferentemente de 1 Pedro, essa epístola possui um testemunho externo muito fraco, e a genuinidade é maculada por dificuldades internas também. Por causa desses obstáculos, muitos estudiosos rejeitam a autoria de Pedro para essa epístola, mas isso não significa que não haja evidência para a posição oposta.

O testemunho externo para a autoria de 2 Pedro é mais fraco do que qualquer outro livro do Novo Testamento, mas até o quarto século ela se tornou reconhecida como uma obra autêntica do apóstolo Pedro. Não há qualquer citação do segundo século, de 2 Pedro que seja incontestável, mas no terceiro século ela é citada em escritos de vários pais da Igreja, principalmente Orígenes e Clemente de Alexandria. Os escritores do terceiro século estavam freqüentemente conscientes a respeito de 2 Pedro e respeitavam seu conteúdo, mas ainda era catalogada como um livro contestável. O quarto século via o reconhecimento oficial da autoridade de 2 Pedro apesar de algumas dúvidas. Por várias razões, 2 Pedro não foi rapidamente aceita como um livro canônico. (1) A sua lenta circulação evitou que ela fosse mais conhecida. (2) Sua brevidade e conteúdo limitam grandemente o seu número de citações nos escritos dos líderes da Igreja primitiva. (3) O atraso no reconhecimento significou que 2 Pedro tinha de competir com outras obras escritas mais tarde que reivindicavam a autoria de Pedro (p. ex., o Apocalipse de Pedro). (4) Diferenças de estilo entre 1 e 2 Pedro também levantaram dúvidas.

Por outro lado, 2 Pedro traz testemunho abundante de sua origem apostólica. Ela reivindica ser “Simão Pedro” (1.1), e 3.1 diz. “Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo.” O autor se refere à profecia do Senhor sobre a morte do apóstolo em 1.14 (Jo 21.18-19) e diz que ele foi uma testemunha ocular da Transfiguração (1.16-18). Como um apóstolo (1.1), ele se coloca num nível de igualdade com Paulo (3.15). Há também palavras distintas que são encontradas em 2 Pedro e nos sermões de Pedro em Atos, assim como palavras incomuns, e expressões compartilhadas entre 1 a 2 Pedro.

No lado negativo, numerosas áreas problemáticas desafiam a posição tradicional. (1) Há diferenças entre o estilo e vocabulário de 1 e 2 Pedro. O grego de 2 Pedro é rude e deselegante, comparado com o de 1 Pedro, e há também diferenças na informalidade e no uso do Antigo Testamento. Mas essas diferenças são geralmente exageradas e podem ser explicadas. Pelo fato de Pedro ter usado Silvano como seu secretário para a 1 Pedro e suas próprias mãos na 2 Pedro. (2) Argumenta-se que a 2 Pedro usou uma passagem de Judas para descrever falsos mestres e que a Epístola de Judas foi escrita após a morte de Pedro. Entretanto, esta é uma questão discutível, e é possível que Judas tenha citado Pedro ou que ambos usaram uma fonte em comum. (3) A referência a uma coleção de epístolas de Paulo (3.15-16) implica numa data tardia para essa epístola. Mas não é necessário concluir que todas as epístolas de Paulo estivessem sendo consideradas aqui. O contato de Pedro com Paulo e seus associados, indubitavelmente, o fizeram conhecer várias epístolas paulinas. (4) Alguns estudiosos dizem que os falsos ensinamentos mencionados na 2 Pedro eram uma forma de gnosticismo que emergiu após a época de Pedro, mas há evidência insuficiente para apoiar essa posição. Uma alternativa para a autoria de Pedro é uma falsificação feita mais tarde em seu nome. Mesmo a sugestão de que a 2 Pedro tenha sido escrita por um dos discípulos de Pedro não pode superar o problema de deturpação. Além do mais, a 2 Pedro é claramente superior a qualquer escrito pseudônimo.
Apesar dos problemas internos e externos, a posição tradicional da autoria de Pedro supera mais dificuldades do que qualquer outra opção. Essa epístola foi escrita pouco antes da morte do apóstolo (1.14), provavelmente em Roma. Seu martírio aconteceu entre 64 e 66 d.C. (se Pedro estava vivo em 67 quando Paulo escreveu a Segunda Timóteo durante seu segundo cárcere romano, é improvável que Paulo o tivesse mencionado).

10.5 As Epístolas Joaninas

Cinco livros do Novo Testamento são atribuídos ao apóstolo João. O Evangelho de João, o Apocalipse e as três chamadas Epístolas de João. Estes cinco livros, conhecidos como a literatura joanina, contêm os três tipos de literatura encontrada no Novo Testamento: histórica, epistolar e apocalíptica. As três Epístolas estão incluídas no grupo de escritos neotestamentários denominados Epístolas Gerais. Esta classificação pode ter sido útil para separar e identificar os vários livros do cânon, mas as três Epístolas, na realidade, não incidem na categoria de gerais ou universais (católicas). A primeira não tem a característica costumeira de uma carta (identificação introdutória do autor e receptores, encerramento com despedida) e a segunda e a terceira são breves, pessoais e dirigidas a leitores específicos. As três Epístolas são fortemente reminiscentes do Evangelho de João e, como este, nunca cessaram de fazer arder os corações dos cristãos com o tema central do amor. Como o quarto Evangelho, elas são de estrutura simples, mas de pensamento profundo. A teologia e o pensamento destas Epístolas tornam-nas importantes no estudo do Novo Testamento e mostram as ameaças de heresia e do abuso de autoridade, como o fazem poucos outros livros do Novo Testamento.

Que as três Epístolas provêm do mesmo autor é evidente, mediante uma leitura cuidadosa. As “irmãs gêmeas”, 2 e 3 João, com certeza têm o mesmo autor, que se denomina “o ancião” (2 João 1; 3 João 1). As comparações destas duas Epístolas mostram, tão conclusivamente quanto possível, com material tão sucinto, o mesmo autor (2 João 1; 2 João 1; 2 João 4; 3 João 3; 2 João 10,11; 3 João 5,6; 2 João 12; 3 João 13,14). A Terceira Epístola foi endereçada a um indivíduo, e isto pode explicar suas diferenças com a Segunda Epístola, que foi escrita a uma Senhora Eleita. As semelhanças entre as duas só podem ser explicadas como ambas sendo provenientes da mesma mão, precisamente porque o assunto e o número de leitores são tão diferentes. Quando estas duas cartas (e mais particularmente 2 João) são colocadas num estudo comparativo com a Primeira Carta, que é mais extensa, dificilmente se pode duvidar de que todas provieram do mesmo autor (1 João 1.4; 2 João 12; 1 João 1.6,7; 2.6,11; 2 João 4; 1 João 2.7; 2 João 5,6; 1 João 2.14, 24; 2 João 2; 1 João 2.18; 4.1-5; 2 João 7; 1 João 2.23; 2 João 9;1 João 3.6,9; 2 João 11). Dos treze versículos de 2 João, pelo menos oito podem ser combinados com versículos de 1 João. É inescapável o fato de que todas as três Epístolas vieram da mesma mão.
10.5.1 O tempo de 1 João

Em At 8.14, João é associado com “os apóstolos, que estavam em Jerusalém”, e Paulo o chama de “coluna” da Igreja de Jerusalém em GI 2.9. Com exceção de Ap 1, o Novo Testamento silencia a respeito desses últimos anos, mas a tradição cristã primitiva, uniformemente, nos diz que ele saiu de Jerusalém (provavelmente não muito antes de sua destruição, em 70 d.C.) e que ministrou em Éfeso e, nas suas vizinhanças. As sete igrejas da província romana da Ásia, mencionadas em Ap 2-3, eram evidentemente uma parte desse ministério. Embora não haja um destinatário em 1 João, é provável que o apóstolo tenha dirigido sua epístola às igrejas asiáticas que estavam no âmbito de sua supervisão.

10.5.2 O tempo de 2 João

Julgando pelo conteúdo e circunstâncias de 2 João, ela era evidentemente contemporânea de 1 João ou foi escrita não muito tempo depois. Foi, provavelmente, escrita por volta do ano 90 d.C.

10.5.3 O tempo de 3 João

Os paralelos entre João 2 e 3 sugerem que essas epístolas foram escritas na mesma época (90 d.C.). Escritores cristãos primitivos são unânimes em seu testemunho de que o quartel general de João ao fim de seu ministério era em Éfeso, a principal cidade da província romana da Ásia. Evidentemente, João enviava um número de mestres viajantes para espalharem o evangelho e para solidificarem as igrejas asiáticas, e esses mestres eram apoiados por cristãos que os recebiam em seus lares.

10.6 O Livro de Judas
Apesar do assunto e tamanho limitados, Judas foi aceita como autêntica e citada pelos pais da Igreja primitiva. Pode haver alusões mais antigas, mas referências irrefutáveis a essa epístola aparecem no final do segundo século. Ela foi incluída no Cânon Muratoriano (cerca de 170 d.C.) e aceita como parte das Escrituras pelos antigos líderes, tais como Tertuliano e Orígenes. Entretanto, dúvidas surgiram em relação ao lugar de Judas no Cânon, por causa de seu uso dos Apócrifos. Ela foi um livro contestado em algumas partes da Igreja, mas, finalmente, ganhou o reconhecimento universal.

10.6.1 O tempo de Judas

Por causa do silêncio do Novo Testamento e da tradição a respeito dos últimos dias de Judas, não podemos saber onde a epístola foi escrita. Nem há qualquer forma de saber a data exata: Partindo do princípio de que 2 Pedro veio primeiro. (64-66 d.C.), a época provável é 66-80 d.C. (O silêncio de Judas em relação à Jerusalém não prova que ele escreveu essa epístola antes de 70 d.C.).

10.7 O Livro do Apocalipse (Profecia)

O Apocalipse é o último livro do Novo Testamento e singular entre os demais. Ele é, ao mesmo tempo, uma revelação do futuro (1.1,19), uma profecia (1.3; 22.7, 10, 18, 19) e um conjunto de sete cartas (1.4,11; 2.1-3.22). (“Apocalipse” deriva da palavra grega apokalupsis, traduzida por “revelação” em 1.1). O livro é uma revelação divina quanto à natureza do seu conteúdo, uma profecia quanto à sua mensagem e uma epístola quanto aos seus destinatários.

Cinco fatos importantes no tocante ao contexto deste livro são revelados no capítulo 1.

1) a “revelação de Jesus Cristo” (1.1).
2) Essa revelação fo’i comunicada ao autor, de modo sobrenatural, por Cristo glorificado, por anjos e visões que ele teve (1.1, 10-18).
3) A comunicação foi concedida ao servo de Deus, João (1.1, 4, 9; cf. 22.8).
4) João teve as visões e recebeu a mensagem apocalíptica quando exilado na ilha de Patmos (80 quilômetros a sudoeste de Éfeso), por causa da Palavra de Deus e do testemunho do próprio João (1.9).
5) Os destinatários iniciais foram sete igrejas da província da Ásia (1.4, 11).
As evidências históricas e internas do livro indicam o apóstolo João como o seu autor. Irineu verifica que Policarpo (Irineu conheceu a Policarpo, e este conheceu o apóstolo João) referiu-se a João, escrevendo o Apocalipse perto do fim do reinado de Domiciano, imperador romano (81-96 d.C.).

O livro retrata as circunstâncias históricas do reinado de Domiciano, o qual exigiu que todos os seus súditos lhe chamassem de “Senhor e Deus”. Sem dúvida, o decreto do imperador originou um confronto entre os que se dispunham a adorá-lo e os crentes fiéis que confessavam que somente Jesus era “Senhor e Deus”. Destarte, o livro foi escrito num período em que os crentes enfrentavam intensa perseguição por causa de seu testemunho. A tribulação aparece através do contexto do livro de Apocalipse (1.19; 2.10, 13; 7.14-17; 11.7; 12.11, 17; 17.6; 18.24; 19.2; 20.4).


11- CÂNON BIBLICO

11.1 O Cânon Bíblico do Antigo Testamento

A palavra "cânon" é de origem cristã e derivada do vocábulo grego "kanon" que por sua vez provavelmente veio emprestado do hebraico "kaneh", que significa “junco” ou “vara de medir”; (Ez 40.5) daí tomou o sentido de norma ou regra. Mais tarde veio a significar regra de fé e, finalmente, catálogo ou lista (Gl 6.16)

A palavra cânon, usada para designar a coleção dos livros que integram as Sagradas Escrituras, não aparece até o século IV, com Atanásio. Dão-se à palavra dois usos distintos, mas de certo modo relacionados: “Em primeiro lugar, ela é usada para indicar uma coleção daqueles livros aos quais se tenha aplicado determinada prova e que foram reconhecidos como autênticos e 'canônicos'. Logo, aplica-se o termo a toda a coleção de escritos, posto que ela constitui o cânon ou 'regra de fé' mediante a qual toda doutrina deve ser provada" (HAMMOND, 1978, p. 36).

O cânon do Antigo Testamento ainda não havia sido fixado no tempo do Novo Testamento, mas quando os judeus da Palestina, em fins do século I, fixaram o cânon de suas Escrituras, este incluía todos os livros que atualmente temos em nossas versões. O uso que se fez desses livros nos tempos do Novo Testamento permaneceu testemunhado em cada página deste último livro; e uma rápida olhada nas referências de nossas Bíblias nos dará uma idéia de quão profundo e sistemático foi esse uso. Mas essas Escrituras não eram suficientes "para o bem-estar da Igreja, para a pureza do evangelho e para a direção do crente; por isso, aprouve a Deus chamar à existência uma graphé cristã, o cânon do Novo Testamento que a Igreja acrescentou à graphé do Antigo Testamento" (RAMM, 1967, p. 177).
11.2 Divisões do Antigo Testamento

O próprio Senhor Jesus Cristo deu seu apoio de legitimidade a todo o Antigo Testamento; fez citações de cada uma de suas divisões; porém, nunca citou qualquer outro livro, nem deu a entender que existam outros livros inspirados. Sabemos que existiam muitos outros livros escritos na língua hebraica, dos quais cerca de 15 ou mais são mencionados no Antigo Testamento mesmo (o livro dos Justos, em Js 10.13; 2Sm 1.18; o livro das Guerras do Senhor, em Nm 21.14).

Como foram escolhidos os 39 livros do meio de tantos outros? A verdadeira prova é sua inspiração. Se Deus falou pelo Espírito por intermédio de algum escritor humano, então o tal livro é inspirado e útil para os propósitos de Deus. Os livros que têm esse selo divino foram reconhecidos como divinos tanto pelo povo comum como pelos líderes e sacerdotes, e o tempo mostrou gradualmente que a seleção fora bem feita.

Tais livros foram escritos entre 2000 e 400 a.C. O livro de Jó, com muita probabilidade, data do tempo dos próprios patriarcas, e o livro de Malaquias foi escrito entre 425 a 400 a.C. Muitos outros escreveram depois de Malaquias, mas os judeus consideravam esses escritos tão somente como histórias humanas.

Entre os judeus, o Antigo Testamento tem três divisões, as quais Jesus citou em Lc 24.44 – Leis, Profetas, Escritos -, algumas traduções trazem Salmos por ser o primeiro livro dos Escritos. O cânon hebraico apresenta unificação de alguns livros: 1,2 Samuel; os dois dos Reis; os dois Crônicas; Esdras e Neemias; os doze profetas menores, são um livro cada.

A ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente da nossa. Há uma tríplice divisão como já mencionamos (Lei, Profetas e Escritos). Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Profetas: Primeiros Profetas - Josué, Juízes, Samuel e Reis; últimos Profetas - Isaías, Jeremias, os Doze. Escritos: Divididos em Livros Poéticos - Salmos, Provérbios e Jó; os Cinco Rolos - Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester. Livros Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

Os Cinco Rolos eram assim chamados porque eram rolos separados, lidos anualmente em festas distintas: Cantares, na Páscoa, em alusão ao Êxodo. Rute, no Pentecoste, na celebração da colheita, em seu início (Primícias). Ester, na festa do Purim, comemorando o livramento de Israel da mão do mau Hamã. Eclesiastes, na Festa dos Tabernáculos – festa de gratidão pela colheita. Lamentações, no mês de Abibe, relembrando a destruição de Jerusalém pelos babilônicos.

No cânon hebraico os livros não estão em or¬dem cronológica. Os judeus não se preocupavam com um sistema cronológico.

Já a nossa divisão do Antigo Testamento em 39 livros vem da Septuaginta oriunda da Vulgata Latina. A Septuaginta foi à primeira tradu¬ção das Escrituras, feita do hebraico para o grego, cerca de 290 a.C. Nela a ordem dos livros está por assunto: Pentateuco, Históricos, Poéticos e Proféticos.

11.3 A Formação e Desenvolvimento do Cânon do Antigo Testamento

O Cânon do Antigo Testamento foi formado num espa¬ço de um pouco mais de mil anos e corresponde o período de Moisés a Es¬dras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor na formação do cânon do Antigo Testamento. Os últimos escritores foram Neemias e Malaquias, no entanto, de acordo com os escritos históricos, foi Esdras que, na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, ficando também o cânon encerrado em seu tem¬po (GILBERTO, 1986, p. 52).

A doutrina da inspiração da Bíblia foi completamente de¬senvolvida apenas nas páginas do Novo Testamento. Mas, muito antes disso, já encontramos na história de Israel cer¬tos escritos reconhecidos como autoridade divina e como regra escrita de fé e conduta para o povo de Deus. Identifi¬camos isso na resposta do povo, quando Moisés leu para eles o livro do concerto (Êx 24.7), ou quando o Livro da Lei, achado por Hilquias, foi lido primeiro para o rei e depois para a congregação (2Rs 22-23; 2Cr 34), ou ainda quando Esdras leu o Livro da Lei para o povo (Ne 8.9, 14-17; 10.28¬-39; 13.1-3). O Pentateuco é tratado com a mesma reverência em Josué 1.7, 8, 8.31 e 23.6-8; 1 Reis 2.3, 2 Reis 14.6 e 17.37, Oséias 8.12, Daniel 9.11,13, Esdras 3.2, 4, 1 Crônicas 16.40, 2 Crônicas 17.9, 23.18, 30.5,18, 31.3 e 35.26. Apresenta-se basicamente como obra de Moisés, um dos primeiros e certamente o maior profeta do Antigo Testamento (Nm 12.6-8; Dt 34.10-12). Deus comumente falava por Moisés de viva voz, como também fez mais tarde com os profetas, mas a atividade de Moisés como escritor também é mencionada muitas vezes (Êx 17.14; 24.4, 7; 34.27; Nm 33.2; Dt 28.58, 61; 29.20-27; 30.10; 31.9-13, 19, 22, 24-26).

A razão de Moisés e os profetas registrarem por escrito a mensagem de Deus, não se contentando apenas em entregá-Ia oralmente, era que às vezes a enviavam a ou¬tros lugares (Jr 29.1; 36.1-8; 51.60, 61; 2Cr 21.12). Mas, na maioria das vezes, era para preservá-Ia para o futuro, como um memorial (Êx 17.14) ou uma testemunha (Dt 31.24-26), a fim de que ficasse escrita para o tempo vindouro (Is 30.8). Portanto a forma permanente e durável da mensagem de Deus não era sua forma falada, mas sua forma escrita, e isso explica o surgimento do cânon do Antigo Testamento.
Vemos conforme o caso do livro do concerto, cuja alusão reporta-se a Êxodo 24.7, que foi possível um documento pequeno, como Êxodo 20-23, tornar-se canônico antes que toda a obra estivesse concluída. Deuteronômio também já era con¬siderado canônico mesmo no tempo em que Moisés vivia (Dt 31.24-26), pois foi colocado ao lado da arca do concer¬to. Contudo, a parte final de Deuteronômio foi escrita de¬pois da morte de Moisés. Notamos também numerosas referências ao Pentateuco (no todo ou em parte) como canônico, em outros livros do Antigo Testamento, que continuaram a ocorrer na literatura existente entre os dois Testamentos. Sem dúvida, a causa disto, deve-se à sua importância fundamental. Entretanto, outra possível razão para tantas referências ao Pentateuco, é o fato de ter sido a primeira seção do Anti¬go Testamento a ser escrita e reconhecida como canônica.

Ninguém duvida que, pela época de Esdras e Neemias (século V a.C.), o Pentateuco já estava completo, como tam¬bém já era canônico, sendo há muito considerado como tal. Foi traduzido para o grego no século III a.C., tornando-se desse modo na primeira porção da Septuaginta. Desde mea¬dos do século II a.C., temos evidências que comprovam que todos os cinco livros, já eram atribuídos a Moisés.

11.3.1 O Desenvolvimento da Segunda e Terceira Seções do Cânon - Profetas e Escritos

O restante da Bíblia hebraica tem uma estrutura diferente em relação à Bíblia em português. Está dividida em duas seções: os Profetas e os Hagiógrafos (gr. escritos sagrados). Os Profetas abrangem oito livros: os livros históricos de Josué, Juízes, Samuel e Reis (encontram-se nesta divisão porque segundo uma antiga tradição foram escritos por alguns profetas), os livros proféticos de Jeremias, Ezequiel, Isaías e os Doze (os Profetas Menores). Os Hagiógrafos compreendem 11 livros: os livros líricos e sapienciais de Salmos, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações de Jeremias, e os livros históri¬cos de Daniel, Ester, Esdras-Neemias e Crônicas. Esta é a ordem tradicional, segundo a qual o re¬manescente livro hagiógrafo, Rute, vem antes de Salmos, visto que termina com a genealogia do salmista Davi. Na Idade Média, esse livro foi colocado em uma posição mais adiante, ao lado de outros quatro livros de brevidade simi¬lar (Cantares de Salomão, Eclesiastes, Lamentações de Jeremias e Ester). É digno de nota que na tradição judaica Samuel, Reis, os Profetas Menores, Esdras-Neemias e Crô¬nicas sejam computados cada um como um único livro. Isso pode ser uma indicação da capacidade média de um rolo de pergaminho hebraico no período em que os livros canônicos foram pela primeira vez alistados e contados.

O agrupamento dos livros não é arbitrário, mas segue o padrão das característi¬cas literárias. Metade do livro de Daniel compõe-se de nar¬rativa, e nos Hagiógrafos (segundo a ordem tradicional) é colocado junto com as histórias. Visto que há histórias na Lei (cobrindo o período da criação até Moisés) e nos Profe¬tas (abrangendo o período de Josué até o fim da monarquia), então por que também não poderia haver histórias nos Hagiógrafos, que tratam do terceiro período, da ida e volta do exílio babilônico? Crônicas é posto por último entre as histórias, como um sumário de toda a narrativa bíblica, de Adão até a volta do exílio. É evidente que quando Crônicas foi escrito, o cânon dos Profetas não estava completamente concluído, pois as fontes citadas ali não são de Samuel e Reis, mas provêm de histórias proféticas mais completas, as quais também parecem ter servido de fontes para Samuel e Reis. Os elementos mais antigos nos Profetas, incluídos em livros como Josué e Samuel, são certamente antiqüíssimos, como também são os elementos mais antigos nos Hagiógrafos, in¬seridos em livros como Salmos, Provérbios e Crônicas. Tais elementos podem ter sido reconhecidos como canônicos an¬tes mesmo do complemento da primeira seção do cânon. Os últimos elementos dos Hagiógrafos, como Daniel, Ester e Esdras-Neemias, pertencem ao final da história do Antigo Testamento.
11.3.2 A Conclusão da Segunda e Terceira Seções do Cânon

A data em que os Profetas e os Hagiógrafos foram organi¬zados em seções distintas foi provavelmente 165 a.C. A tra¬dição de 2 Macabeus, fala sobre uma grande crise na história do cânon: Da mesma forma, também Judas [Macabeu] recolheu todos os livros que tinham sido dispersos por causa da guerra que nos foi feita, e eles estão em nossas mãos (2 Macabeus 2.14). A "guerra" men¬cionada aqui é a dos macabeus pela libertação do persegui¬dor sírio Antíoco Epifânio. A hostilidade de Antíoco contra as Escrituras está registrada em 1 Macabeus 1.56, 57, e é bem provável que, finda a perseguição, Judas tenha precisado reunir cópias delas. Judas sabia que fazia longo tempo que o dom profético havia cessado (1 Macabeus 9.27), assim é ve¬rossímil supor que, ao reunir as Escrituras que haviam sido dispersas, ele organizou e relacionou a coleção completa na ordem tradicional. Visto que os livros ainda se apresenta¬vam em rolos separados, os quais tinham de ser "recolhi¬dos", o que Judas produziu não foi um volume, mas uma coleção e uma lista de livros na coleção, dividida em três.

Ao preparar a lista, Judas provavelmente definiu não ape¬nas a divisão estável entre Profetas e Escritos, mas tam¬bém a ordem tradicional dos livros e o número tradicional de livros dentro de cada divisão. Uma lista de livros precisa ter uma ordem e um número. A ordem tradicional dos livros traz Crônicas como o último dos Hagiógrafos. Essa posição para Crônicas pode ser remontada ao século I d.C., visto es¬tar refletida nos ditos de Jesus em Mateus 23.35 e Lucas 11.51, onde a frase "desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias" provavelmente significa todos os profetas martirizados do início ao fim do cânon, de Gênesis 4.3-15 a 2 Crô¬nicas 24.19-22.

11.3.3 Do Cânon Judaico ao Cristão
No Novo Testamento, encon¬tramos Jesus reconhecendo as Escrituras judaicas pelos seus diversos títulos conhecidos e aceitando as três seções do cânon judaico e a ordem tradicional de seus livros. Desco¬brimos também que para a maioria dos livros é individual¬mente imputada autoridade divina - mas não para qual¬quer um dos livros apócrifos. A única exceção evidente en¬contra-se em Judas 9 (que cita a obra apócrifa a Assunção de Moisés) e 14 (que cita o Livro de Enoque). As citações que Judas faz dessas obras não significa que cria serem elas divinamente inspiradas, assim como a citação de Paulo de diversos poe¬tas gregos (vide At 17.28; 1Co 15.33; Tt 1.12) não atribui ins¬piração divina à poesia deles. O que evidentemente aconteceu nos primeiros séculos do Cristianismo foi isto: Jesus passou para seus seguido¬res, como Escrituras Sagradas, a Bíblia que Ele havia rece¬bido, contendo os mesmos livros da Bíblia hebraica dos dias atuais. Os primeiros cristãos compartilharam com seus contemporâneos judeus um conhecimento completo da identidade dos livros canônicos. Entretanto, a Bíblia ainda não estava entre duas capas: era uma lista memori¬zada de rolos. A ruptura com a tradição oral judaica (em alguns casos, uma ruptura muito necessária), a alienação entre judeus e cristãos e a ignorância geral das línguas semíticas nas igrejas fora da Palestina e da Síria fizeram com que surgisse dúvida no que dizia respeito ao cânon entre os cristãos, o que foi acentuado pelo preparo de novas listas de livros bíblicos, organizadas de acordo com outros princípios, e pela introdução de novos lecionários. Essa dúvida acerca do cânon somente pode¬ ser resolvida como na reforma por um retorno aos ensinamentos do Novo Testamento e ao pano de fundo judaico, sobre o qual tais ensinamentos devem ser compreendidos.

11.3.4 Data do Reconhecimento e Fixação do Cânon do Antigo Testamento

Em 90 d.C. Em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Is¬rael, os rabinos, num concílio sob a presidência de Joha¬nan Ben Zakai, reconheceram e fixaram o cânon do Antigo Testamento. Houve muitos debates acerca da aprovação de certos livros, especialmente dos "Escritos". Note-se, po¬rém que o trabalho desse concílio foi apenas ratificar aqui¬lo que já era aceito por todos os judeus através de séculos.

11.4 O Cânon do Novo Testamento

Há consenso entre teólogos que o Novo Testamento foi escrito dentro de um período de cinqüenta anos, vários séculos depois que o Antigo Testa¬mento foi completado. Em relação ao tempo, o Antigo Testamento está tão dis¬tante de nós que sua formação como corpo escriturístico poderia ser considerado longínquo demais para a atestação de seu conteúdo. Tal não é o caso. Em certo sentido, temos atestações muito maiores para o cânon do Antigo Testamen¬to do que para o cânon do Novo Testamento. Referimo-nos ao fato do próprio imprimátur (do lat. imprimatur, 'imprima-se') de nosso Senhor Jesus Cristo, pela maneira como fez uso das Escritu¬ras hebraicas como a Palavra autoritária de Deus.

Não obstante, há um sentido no qual Jesus Cristo real¬mente oficializou o conteúdo ou cânon do Novo Testamen¬to: pela via da antecipação. Foi Ele quem nos fez essas promessas: o “Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito e ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 14.26; 16.13).

A partir disto podemos inferir, ao mesmo tempo, o princí¬pio básico da canonicidade para o Novo Testamento. É idên¬tico ao do Antigo Testamento, visto que se restringe à questão da inspiração divina. Quer pensemos nos profetas dos tem¬pos do Antigo Testamento ou nos apóstolos e seus compa¬nheiros dados por Deus nos dias do Novo Testamento, o re¬conhecimento na própria época de seus escritos de que eram autênticos porta-vozes de Deus é o que determina a canonicidade intrínseca de seus registros. Podemos estar certos de que os livros em questão foram recebidos pela Igreja dos tempos apostólicos, precisamente no momento em que foram atestados por um apóstolo como sendo dessa ma¬neira inspirados. A variação evidente relativa à área geográfica, no reconhecimento de algumas das epístolas do Novo Testamento, pode muito bem ser o reflexo do simples fato de que, em princípio, essa atestação era por sua própria natureza localizada. De maneira inversa, o fato de cada um dos 27 livros do Novo Testamento hoje universalmente aceitos ter recebido aprovação definitiva é prova de que a atestação apro¬priada era dada somente depois de rigorosa investigação.

Tertuliano, notável escritor cristão das primeiras duas dé¬cadas do século lll, foi um dos primeiros a chamar as Escrituras cristãs de "Novo Testamento". Esse título havia aparecido antes (c. 190) em uma composição feita contra o montanismo, de autor desconhecido. Esse fato é significa¬tivo. Seu uso colocou as Escrituras do Novo Testamento em um nível de inspiração e autoridade igual ao do Antigo Testamento.

O processo gradual que conduziu ao completo e formal reconhecimento público de um cânon estabelecido em 27 livros, formando o Novo Testamento, leva-nos ao século IV de nossa era. Isso não sig¬nifica necessariamente que antes desse período estivesse faltando reconhecimento para a integridade destas Escrituras, mas que a necessidade de uma definição oficial do cânon não foi premente até então.

Em relação ao Antigo Testamento um período de tempo muito mais curto esteja envolvido nos escritos do Novo Testamento, o alcance geo¬gráfico de sua origem é muito mais amplo. Essa circunstân¬cia já é suficiente para justificar a falta de reconhecimento espontâneo ou simultâneo da extensão precisa do cânon do Novo Testamento. Por causa do isolamento geográfico dos vários destinatários das porções do Novo Testamento, hou¬ve espaço para algum atraso e incerteza de uma região para outra no reconhecimento de alguns dos livros.

O princípio que determina o reconhecimento da autori¬dade dos escritos canônicos do Novo Testamento foi estabe¬lecido dentro do próprio conteúdo desses escritos. Há repe¬tidas exortações para a leitura pública das mensagens apos¬tólicas. No fim da Primeira Epístola aos Tessalonicenses, possivelmente o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito, Paulo diz: "Pelo Senhor vos conjuro que esta epísto¬la seja lida a todos os santos irmãos" (1Ts 5.27). Três capítu¬los antes, na mesma epístola, Paulo os recomenda a aceita¬rem suas palavras faladas como "palavra de Deus" (1Ts 2.13) e, em 1 Coríntios 14.37, o apóstolo fala de modo semelhante acerca de seus "escritos" (COMFORT, 1998, p. 97).

12- APÓCRIFOS, PSEUDOPIGRAFOS E PERGAMINHO

12.1 Escritos Apócrifos

Nas Bíblias de edição da Igreja Católica Romana, o total de li¬vros é de 73, porque essa igreja, desde o Concílio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento 7 livros apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros canô¬nicos, acrescentando, assim, ao todo, 11 escritos apócrifos.

A palavra apócrifo significa, literalmente, escondi¬do, oculto, isto em referência a livros que tratavam de coisas secretas, misteriosas, ocultas. No sentido religioso, o termo significa "não genuíno", "espúrio", desde sua apli¬cação por Jerônimo. Os apócrifos foram escritos entre Ma¬laquias e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testa¬mento, numa época em que cessara por completo a revela¬ção divina; isto basta para tirar-Ihes qualquer pretensão de canonicidade. O Historiador Flávio Josefo rejeitou-os totalmente. Nunca fo¬ram reconhecidos pelos judeus como parte do cânon hebraico. Jamais foram citados por Jesus nem foram reco¬nhecidos pela igreja primitiva.

Jerônimo, Agostinho, Atanásio, Júlio Africano e outros homens de valor dos primitivos cristãos, opuseram-se a eles na qualidade de livros inspirados. Apareceram pela pri¬meira vez na Septuaginta - tradução do Antigo Testa¬mento feita do hebraico para o grego. Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, em 170 d.C., seu Antigo Testamen¬to foi traduzido do grego da Septuaginta e não do hebraico.

Quando Jerônimo traduziu a Vulgata, no início do Século V (405 d.C.), incluiu os apócrifos oriundos da Septuaginta, através da Antiga Versão Latina, de 170 d.C., porque isso lhe foi ordenado, mas recomendou que esses livros não pode¬riam servir como base doutrinária.

12.1.1 Livros Apócrifos do Antigo Testamento

Os 7 livros apócrifos constantes das Bíblias de edição católico-romana são: TOBIAS (Após o livro canônico de Esdras), JUDITE (após o livro de Tobias) SABEDORIA DE SALOMÃO (após o livro canônico de Cantares), ECLESIÁSTICO (após o livro de Sabedoria), BARUQUE (após o livro canônico de Jeremias), 1 MACABEUS, 2 MACABEUS (ambos, após o livro canônico de Ma¬laquias). Os 4 acréscimos ou apêndices são: ESTER (a Ester, 10.4 -16.24), CÂNTICO DOS TRÊS SANTOS FILHOS (a Da¬niel, 3.24-90), HISTÓRIA DE SUZANA (Daniel, cap.13), BEL E O DRAGÃO (a Daniel, capo 14). Os livros rejeita¬dos são: 3 ESDRAS, 4 ESDRAS, A ORAÇÃO DE MANASSÉS. A Igreja Católica Romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546, para combater o movimento da Reforma Protestan¬te, então recente. Nessa época, os protestantes combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas: a doutrina do Purgató¬rio, a doutrina da oração pelos mortos, a doutrina da salvação mediante obras etc. A Igreja Católica Romana via nos apócrifos base para essas doutrinas, e, apelou para eles, aprovando-os como canôni¬cos.

12.1.2 Razões da Rejeição dos Livros Apócrifos

A razão porque 66 livros da Bíblia se harmonizam entre si é que a mesma mente divina inspirou a cada escritor. Se, por exemplo, João tivesse escrito algo que não concordasse com as obras de Moisés, seríamos obrigados a rejeitar seu Evangelho, as Epístolas e o livro do Apocalipse. Os primeiros livros constituem o critério para todos os outros chamados inspirados. Se as doutrinas dos livros apócrifos não concordam em cada ocasião com aquilo que Moisés escreveu, não devem achar-se no Cânon da Palavra Inspirada. Os livros apócrifos ensinam doutrinas que são contrárias ao que Moisés e outros profetas escreveram. Por essa razão não foram colocados entre os outros livros do Velho Testamento, nos dias de Esdras. Nem Cristo nem os apóstolos citaram os livros apócrifos. S. Jerônimo os rejeitou da Bíblia Latina, por não estarem escritos em hebraico.

12.1.2.1 Ensino da Arte Mágica

Tobias 6.5-8. "Então, o anjo lhe disse: toma as entranhas deste peixe e guarde para ti seu coração, o fel e seu fígado. Pois são necessários para medicinas úteis [...] Logo, Tobias perguntou ao anjo e lhe disse: Eu te rogo, irmão Azarias, para quais remédios são boas essas coisas, que tu pediste separar do peixe. E o anjo, respondendo, lhe disse: Se puseres um pedacinho do seu coração sobre as brasas, seu fumo há de espantar toda a espécie de demônios, seja de um homem ou de uma mulher, de modo que não possam mais voltar a eles."

12.1.2.2 Dar Esmolas Purifica do Pecado

Tobias 12.8,9. "A oração é boa como o jejum e esmolas; é melhor do que guardar tesouros de ouro, pois, esmolas livram da morte, e é o mesmo que espia os pecados e conduz à misericórdia e vida eterna". Se ofertas caridosas pudessem expiar os nossos pecados, não teríamos necessidade do sangue de Jesus Cristo.

12.11.2.3 Pecados Perdoados pela Oração

Eclesiástico 3.4. "Quem amar a Deus, receberá perdão de Seus pecados pela oração". Os pecados não se perdoam pela oração. Se fosse assim, não teríamos necessidade de Jesus. Todos os povos pagãos fazem orações, mas os pecados não se perdoam somente pela oração. Pv 28.1; 1Jo 1.9. Só Cristo, nosso Advogado, pode perdoar o pecado.

12.1.2.4 Orações pelos Mortos

2 Macabeus 12.42-46, "E, fazendo uma arrecadação, mandou doze mil dracmas de prata a Jerusalém para ser oferecido um sacrifício pelos pecados dos mortos, e fez bem em pensar religiosamente na ressurreição, (pois, se não tivesse esperança que os que haviam sido mortos ressuscitassem novamente, haveria de ser supérfluo e em vão orar pelos mortos). E considerava que, os que haviam adormecido no temor de Deus, alcançaram para si muita graça." A Igreja Católica afirma que estes versículos lhe autorizam a doutrina do purgatório. Orações e missas pelos mortos são aceitas e o devoto católico crê nelas. Excede a imaginação a quantidade de dinheiro que aflui todos os anos aos cofres da igreja pelas missas em favor dos mortos.

12.1.2.5 O Ensino do Purgatório

Sabedoria 3.1-4. "Mas, as almas dos justos estão na mão de Deus; e o tormento da morte não as tocará. Aos olhos dos ignorantes pareciam eles morrer e sua partida foi considerada desgraça. E, sua separação de nós, por uma extrema perda. Mas, eles estão em paz. E, embora aos olhos dos homens sofram tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade." A Igreja Católica baseia a sua crença da doutrina do purgatório nestes versículos citados: "Embora aos olhos dos homens sofram tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade". "Os tormentos" nos quais se acham os "justos", diz a Igreja, referem-se ao fogo do purgatório, onde os pecados estão sendo expiados. "Sua esperança está plenamente na imortalidade", pois a igreja interpreta isso, declarando que após suficiente tempo de sofrimento no meio do fogo, poderão passar para o céu. 1Jo 1.7. Esse ensino aniquila completamente a expiação de Cristo. Se o pecado pudesse ser extinto pelo fogo, não teríamos necessidade do nosso Salvador.


12.1.2.6 O Anjo Relata uma Falsidade

Tobias 5.15-19. "O anjo disse-lhe (a Tobias): Guiá-lo-ei para lá (o filho de Tobias) e o farei voltar a ti. E Tobias lhe disse (ao anjo): Eu te rogo, dize-me, de que família ou de que tribo és tu? E Rafael, o anjo, respondeu: [...] Eu sou Azarias, o filho do grande Ananias. Respondeu-lhe Tobias: Tu és de uma grande família". Se um anjo de Deus mentisse acerca de sua identidade, tornar-se-ia culpado de violação do nono mandamento. Lc 1.19. Confrontando esta declaração com o que está registrado no livro de Tobias, compreenderemos logo porque Cristo nunca Se referiu aos livros apócrifos.

12.1.2.7 Uma Mulher Jejuando Toda Sua Vida

Judith 8.5,6. "E ela fez para si um aposento separado no andar superior de sua casa no qual vivia com suas servas. Seu vestido era de cabelo de crina e ela jejuava todos os dias de sua vida, com exceção dos sábados, das luas novas e demais festas da casa de Israel." Esta passagem é parecida a outras lendas católicas romanas, com respeito a seus santos canonizados. Uma mulher dificilmente jejuaria toda sua vida, com exceção de um dia da semana e algumas outras ocasiões durante o ano. Cristo jejuou quarenta dias, porém não toda a Sua vida.

A igreja católica apega-se a estes livros não inspirados porque eles sancionam alguns de seus falsos ensinos, como: oração pelos mortos, salvação pelas obras, a doutrina do purgatório, dar esmolas para libertar as pessoas do pecado e da morte.

12.1.3 Apócrifos do Novo Testamento

Trata-se de Evangelhos, Atos de Apóstolos e Epístolas, todos lendários e espúrios, que começaram a aparecer no século II. Foram forjados, na maior parte, e assim reconhecidos desde o princípio. São tão cheios de estórias ridículas e indignas a respeito de Cristo e dos apóstolos, que nunca foram reconhecidos como divinos, nem incorporados à Bíblia. São tentativas deliberadas de preencher lacunas na história de Jesus, como é apresentada no Novo Testamento, com o fim de fomentar idéias heróicas através de falsas afirmações. Sabe-se que houve uns 50 "Evangelhos" espúrios, além de muitos "Atos" e "Epístolas". A grande quantidade desses escritos forjados fez a Igreja Primitiva ver quanto era importante distinguir entre os falsos e os verdadeiros. Dizem que Maomé tirou largamente desses livros as idéias que tinha acerca do cristianismo. Neles está a origem de alguns dogmas da Igreja Romana. Não devem ser confundidos com os escritos dos “Pais Apostólicos". Vai, aqui, uma lista de alguns dos livros apócrifos mais conhecidos:

Evangelho de Nicodemos. Inclui os "Atos de Pilatos", pretenso relatório oficial do julgamento de Jesus ao imperador Tibério. Foi produzido entre os séculos II e V. Puramente imaginário.

Proto Evangelho de Tiago. Narrativa que vai do nascimento de Maria ao massacre dos inocentes. Contos que começaram a circular no século II. Foi completado século V.

O Passamento de Maria. Repleto de milagres ridículos culmina com a remoção do "seu corpo imaculado e precioso" ao Paraíso. Escrito no século IV, com o aparecimento do culto à Virgem.

Evangelho Segundo os Hebreus. Adições aos Evangelhos canônicos, com algumas frases atribuídas a Jesus. Meados de 100 d.C.

Evangelho dos Ebionitas. Compilado dos Ev. Sinópticos, no interesse da doutrina ebionita.

Evangelho dos Egípcios. Conversas imaginárias entre Jesus e Salomé. Entre 130 e 150 d.C. Usados pelos sabelianos.

Evangelho de Pedro. Meados do Século II. Buscado em Evangelhos canônicos. Escrito no interesse de doutrinas docetistas e anti-judaicas.

Evangelho de um Pseudo-Mateus. Século V. Falsa tradução de Mateus, repleta de milagres da infância de Jesus.

Evangelho de Tomé. Século II. Vida de Jesus, dos 1 aos 12 anos. Apresenta-o operando milagres para satisfação de seus caprichos infantis.

Natividade de Maria. Obra de ficção Século VI, premeditada, para fomentar o culto à Virgem. Histórias de visitas diárias de anjos a Maria. Com o surto do papado, tornou-se imensamente popular.

Evangelho Arábico da Infância. Século VII. História de Milagres operados durante a estada no Egito.

Evangelho do Carpinteiro José. Século IV. Originou-se no Egito. Dedicado à glorificação de José.

Apocalipse de Pedro. Pretensas visões do céu e do inferno concedidas a Pedro. Eusébio chamou-o "espúrio".

Atos de Paulo. Meados do Século II. Romance que aconselha a continência. Contém a suposta Epístola aos Coríntios que se perdeu.

Atos de Pedro. Fim do século II. Um caso de amor com a filha de Pedro. Conflito com Simão, o Mago. Contém a história do "Quo Vadis".

Atos de João. Fim do século II. História de uma visita à Roma. Puramente imaginária. Contém um quadro revoltante de sensualismo.

Atos de André. História de André, que persuade Maximila a evitar relações com o marido, o que resultou no martírio dele.

Atos de Tomé. Fim do século II. Como os Atos de André, foi criado com interesse da abstinência de relações sexuais.
Carta de Pedro a Tiago. Fim do século II. Ataca violentamente Paulo. Pura invenção no interesse dos ebionitas.

Epístola de Laodicéia. Diz ser a que é referida em Colossenses 4.16. Um aglomerado de frases de Paulo.

Cartas de Paulo á Sêneca. E outras deste àquele. Invenção século IV. Objetivo: ou recomendar o cristianismo aos seguidores de Sêneca, ou recomendar este aos cristãos. A principal característica destes escritos é o fato de serem obras de ficção, que se apresentam como história, mas em sua maior parte são absurdos por tal forma que a falsidade deles evidencia-se por si mesma.

Cartas de Abgar. Estas podem ter alguma base, Eusébio assim pensava. Conta que Abgar, rei de Edessa, estando enfermo, ouviu falar do poder de Jesus. Escreveu-lhe uma carta pedindo que fosse curá-lo, ao que Jesus respondeu por escrito: "...é necessário completar aquilo para o que fui enviado; depois disso serei recebido em cima, por aquele que Me enviou. Quando, pois, Eu for recebido no céu, enviarei um dos Meus discípulos que te curará". Contam que foi Tadeu o enviado, a quem mostraram as Cartas a que ficaram arquivadas em Edessa. Possivelmente, Jesus mandou um recado verbal, que eles registraram.

12.2 Os Pseudopígrafos

São os livros escritos sob um nome fictício. Para outros são os escritos judaicos, extra bíblicos, não inspirados do Antigo Testamento. São considerados de valor no estudo do cânon, e alguns estudiosos os incluem no mesmo grupo dos apócrifos. Dentre os pseudopígrafos destacam-se:
O Livro de Enoque. A crítica textual não tem condições de localizá-lo exatamente em determinada época, mas deve pertencer ao período de 200 a.C. e as primeiras décadas do primeiro século da nossa era.

A Assunção de Moisés. Deve ter sido publicado no tempo de Cristo e procura narrar a história do mundo, em forma de profecia, desde Moisés até ao tempo do autor.

Os Oráculos Sibilinos. São obras judaicas que, à imitação das profecias pagãs de Sibila, pretendem divulgar o pensamento hebraico entre os gentios.

O Livro dos Jubileus. É um comentário sobre Gênesis, frisando que a Lei foi observada desde os mais remotos tempos. Recebe este nome pelo fato de dividir a história em períodos jubileus, isto é, quarenta e nove anos (sete semanas de anos).

O livro dos Segredos de Enoque (2 Enoque). Descreve pormenorizadamente os sete céus e antecipa em mil anos o reinado de Deus na terra.

O Apocalipse de Baruque. Alguns o atribuem ao escriba de Jeremias. Foi escrito, segundo os críticos, nas últimas décadas do primeiro século da nossa era.

O Apocalipse de Abraão. É uma obra judaica com passos de literatura do cristianismo. Pertence ao século I da nossa era.

Os Salmos de Salomão. Coletânea de dezoito salmos, escrita por um fariseu, que viveu na segunda metade do primeiro século da era cristã. O estilo é bastante semelhante ao dos Salmos que temos na Bíblia.

A Carta de Aristéias. É interessante por informar-nos das supostas circunstâncias em que foi feita a tradução do Velho Testamento hebraico para o grego.

Macabeus, 3 e 4. No III encontramos uma tentativa de massacre dos judeus no reinado de Ptolomeu Filopator. O 4 é um tratado filosófico ilustrando a tese do autor no caso dos mártires macabeus. Embora haja referências a estes livros na Bíblia (2Tm 3.8; Jd 9 e 14) não necessitamos aceitá-los como canônicos.

A literatura pseudopígrafa foi produzida entre 200 a.C., e 200 a.D. com o objetivo de encorajar e consolar a nação judaica durante as invasões dos sírios e romanos.

12.3 Os Rolos do Mar Morto

No verão de 1947, tiveram início na Palestina, por obra de casual descoberta de um jovem beduíno, chamado Moâmede ad-Dib, encontros arqueológicos de excepcional importância: os chamados manuscritos do Deserto da Judéia, do Mar Morto ou ainda Manuscritos de Qunran. Ele tinha perdido uma cabra, por isso subiu penosamente a encosta, chamando pelo animal que continuava a elevar-se, a procura de alimento. Nesta sua busca ele deparou com uma cavidade, atirou para dentro dela uma pedra, apurando o ouvido para escutar a queda, a fim de determinar a sua profundidade. Qual não foi a sua surpresa, quando em vez do esperado ruído, seu ouvido percebeu um típico som de louça. Com esforço conseguiu olhar para dentro, notando com surpresa a existência de vários objetos cilíndricos, de grande tamanho. Amedrontado pela superstição, o moço fugiu rapidamente daquele sítio, e, à noite, comentou com um amigo a inusitada descoberta da caverna. No dia seguinte os dois se dirigem à gruta, e ao entrarem nela, encontram sete rolos. Levaram alguns para a tenda e ao desenrolarem ficaram surpresos com a sua extensão e por não entenderem nada do que neles estava escrito.

Os beduínos, indo regularmente a Belém para vender leite e queijo, certo dia, levaram também os pergaminhos, vendendo-os a um cristão sírio, dono de um armazém, conhecida pelo nome de Kando, que também por ignorar totalmente o valor deste achado, abandonou-os no chão da loja por vários dias, sendo estes pisados pelos que nela entravam. Certo dia, atentando melhor para aqueles pergaminhos, ocorreu-lhe a idéia de levá-los a Jerusalém para os vender no Convento Sírio de São Marcos. O superior do convento procura pessoas entendidas que estudassem os manuscritos, a fim de que ele pudesse ter uma idéia de seu real valor, assim sendo, um dos pergaminhos foi enviado ao Professor E. L. Sukenik, da Universidade Hebraica. Sukenik analisando-o, em profundidade, concluiu que o documento apresentava grande valor pelo seu conteúdo e considerável antigüidade.

A caverna na qual foram encontrados os manuscritos fica na região desolada e quente do Deserto de Judá dos dias bíblicos, cerca de doze quilômetros ao sul de Jericó, na altura do Uadi Qunran.

Os sete rolos retirados desta gruta eram bem diferentes, pois dois eram manuscritos do livro de Isaías, um completo e outro incompleto, um manual de Disciplina da Seita, uma coleção de Salmos e Ações de Graça, uma ordem de batalha para uma guerra apocalíptica entre os Filhos da Luz e os Filhos das Trevas, um Comentário ao livro de Habacuque. Todo este material foi publicado por Sukenik e pelos americanos. Além dos manuscritos já citados ainda foram encontrados documentos os mais diversos conto contratos de casamento, cartas do líder judeu Bar Cocheba, um hinário de mais ou menos quarenta salmos, cópias dos apócrifos de Eclesiástico e Tobias, além de trechos de pseudepígrafos como o de Enoque.

A gruta em que aqueles pastores entraram, e que marcou o início de uma fase histórica da arqueologia, recebeu o n.º 1. Não longe dela, encontrou-se, em fins de 1951, a gruta a que se deu o n.º 2. Continha fragmentos dos Salmos, os livros de Isaías, do Êxodo, de Rute, um documento litúrgico e o livro apócrifo dos Jubileus, que é uma paráfrase do Gênesis, recompilada pelos fariseus. Descobriu-se, depois, a gruta n.º 3, onde se encontraram 2 rolos de chapas de cobre, com textos gravados.

A gruta que deu colheita mais rica foi a de n.º 4. Continha 380 manuscritos, dos quais mais ou menos uma centena são de ordem bíblica. Seguiram-se as de n.º 5 e 6, que deram manuscritos de pouca importância bíblica e histórica. Em fins de 1955, revistaram-se as grutas que receberam os nos 7, 8, 9 e 10, todas contendo ora pergaminhos, ora papiros, tudo de pouca importância. Logo após, nos últimos dias de 1955, encontram-se outras duas séries de grutas, uma à margem do Uadi Murabaat, e outra à margem do Uadi Mird, sempre nos arredores do Mar Morto.

Os dois rolos de chapa de cobre mediam mais ou menos 2 metros de comprimento e uns 30 centímetros de largura. Durante 3 anos estudos foram feitos para que os rolos fossem abertos sem se estragar a escrita. Foi preparada uma máquina especial pelo Departamento de Tecnologia de Manchester, Inglaterra, para cortar o rolo, trabalho este levado a efeito no dia 16 de janeiro de 1956. Estes rolos podem ser vistos no Museu de Amã. Na escrita de um deles estava a relação de uns 60 esconderijos, nos quais, se encontrariam depósitos de ouro, prata ou caixas de incenso.

Três sociedades científicas: Departamento Arqueológico da Jordânia, Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém (Santo Estêvão) e o Museu Arqueológico Palestinense têm inventariado as riquezas destas grutas. Os fragmentos de manuscritos descobertos nas onze cavernas de Qunran são cerca de 600 e um quarto destes fragmentos contém textos bíblicos; com exceção do livro de Ester, todos os livros do Velho Testamento se acham ali representados. Os mais numerosos são dos livros de Isaías, de Deuteronômio e dos Salmos.

12.3.1 Quem Guardou Estes Manuscritos

Uma pergunta que vem à mente de todos é esta: quem foram as pessoas que moravam nesta região e copiaram os manuscritos encontrados nas grutas? Segundo a opinião dos eruditos seus habitantes pertenciam à seita judaica dos essênios, os quais ocuparam esta região entre 185 a.C. e 68 a.D.
Havia entre os judeus no tempo de Cristo as seguintes seitas: Os fariseus – legalistas e separados, observadores de tradições antigas, eram muito religiosos; os saduceus – conhecidos por sua oposição aos fariseus e por negarem a ressurreição. Eram incrédulos e livres pensadores; os essênios – muitas etimologias têm sido apresentadas para explicar a origem deste nome. The Interpreter's Dictionary of the Bible, cita pelo menos dez entre palavras gregas e hebraicas, salientando que os eruditos não têm nenhuma uniformidade em seus pontos de vista. Os essênios eram pessoas que estavam decepcionadas com a corrupção reinante em seus dias, por isso abandonaram a sociedade e se refugiaram em mosteiros para se dedicarem a uma vida de oração e ao estudo da palavra de Deus.
12.3.2 Origem da Comunidade Essênica de Khirbet Qumran

Para o mosteiro de Khirbet Qumran podemos indicar diversos períodos de construção, como atestam as escavações realizadas entre 1951 e 1956. A primeira construção monástica, edificada em pedra, data do tempo do sumo sacerdote João Hircano (134-104 a.C.), da dinastia macabeu - asmonéia. Antes dessa época, os hassideus (essênios) tiveram que contentar-se com abrigos encontrados ao acaso. Uma figura característica que se encontra sempre de novo nos textos de Qumran, é o anônimo 'mestre de nossa justiça', a quem a comunidade de Qumran deve a sua clara diferenciação dos outros grupos religiosos, antes de mais nada do culto e da hierarquia de Jerusalém, e que de várias maneiras, deu também impulso às normas de vida de Qumran.

Antes da primeira revolta judaica, por causa do avanço da décima legião sob o comando de Vespasiano, os manuscritos da biblioteca do mosteiro foram colocados a salvo (por volta do ano 68 d.C.). O próprio mosteiro foi destruído pelos romanos. Durante a segunda revolta judaica (132-135), o lugar das ruínas e arredores constituíram um ponto de apoio para os combatentes da resistência judaica que se encontraram em torno de Bar Kokba, Com efeito, numa gruta ao sul de Qumran, foram encontrados, além de apetrechos sacrificais, vestes e moedas, também manuscritos da época entre 88 e 135 d.C., entre os quais uma carta de Bar Kokba."

12.3.3 Valor dos Rolos do Mar Morto

Embora o valor desta descoberta ainda não possa ser avaliado em toda a sua plenitude, há certos fatos já conhecidos que são os seguintes: Estes manuscritos são pelo menos 1000 anos mais velhos do que o mais antigo manuscrito hebraico que possuímos – O Códice Petropolitano escrito em 912 a.D; os manuscritos de Qumran são mais antigos do que os mais velhos fragmentos da Septuaginta existentes, quanto à história da evolução da escrita, fornecendo, portanto precioso material à Paleografia. Estes manuscritos foram copiados entre os séculos III a.C. e o primeiro século a.D.; antes desta descoberta pouco se sabia a respeito do judaísmo pré-cristão. Através do Manual de Disciplina conhecemos hoje muito dos seus costumes e maneira de viver; estes manuscritos, vieram desfazer afirmações infundadas, concernentes ao trabalho dos copistas pré-massoréticos e ainda de que a Bíblia Hebraica de hoje fora organizada e emendada pelos massoretas.

Os estudantes da Bíblia não puseram tanto em dúvida as mudanças no texto quando foram acrescentadas as vogais e a pontuação para formar o texto Massorético, séculos depois de Cristo, pois sabiam que os copistas depois daquele tempo, preservaram com cuidado extremo cada jota e til do texto. Alguns críticos opinavam que os mais antigos copistas por não serem tão escrupulosos trataram o texto com mais liberdade, portanto havia diferenças consideráveis em nossa Bíblia.

Quando o texto hebraico de hoje foi comparado com os manuscritos de Qumran verificou-se surpreendente identidade de conteúdo. Os rolos do Mar Morto comprovam a validade do texto hebraico, tão cuidadosamente transmitido através dos séculos. O descobrimento destes rolos e de outros manuscritos mostrou a fragilidade dos argumentos da Alta Crítica, comprovando que o trabalho dos copistas e tradutores por dois mil anos não mudou a Palavra de Deus. Eles comprovaram que a maioria das variações de um manuscrito para outro são simplesmente questões de letras, palavras ou frases que não modificam suficientemente o sentido para influenciar alguma doutrina importante.

12.3.4 Fragmentos de Papiros em Qumran

Numa das cavernas de Qumran foram encontrados muitos fragmentos de papiros e entre estes, o papirólogo espanhol, José O'Callaghn descobriu um trecho do Evangelho de São Marcos – correspondente aos versículos 52 e 53, do capítulo 6. Após este encontro, em março de 1972, o erudito espanhol, recorrendo a métodos técnicos, conclui que se trata de um manuscrito do ano 50 a.D. A história nos confirma que o General Vespasiano, no ano 68 a.D, tomou posse do mosteiro essênio de Qumran, ocasião em que seus habitantes esconderam os rolos nas cavernas, pensando em regressar mais tarde para recuperá-los.

12.3.5 Conclusões

Todo o cuidado e todos os avanços feitos pela ciência têm sido utilizados, quer na determinação das datas deste valioso material, quer na sua leitura e conservação. Assim foi descoberto um método com base na ciência atômica, para determinar a idade do material orgânico. Foi usando esse método, com o isótopo, "Carbono 14", que o Instituto Nuclear da Universidade de Chicago pode confirmar com precisão a opinião dos arqueólogos, segundo a qual o pano que envolvia os rolos, descobertos em 1947, datava do I século da era cristã. No Museu de Jerusalém, onde se encontra boa parte do material descoberto, documentos, à primeira vista ilegíveis, são decifrados graças à fotografia infravermelha que traz à luz, letras que normalmente não podem ser distinguidas pelos olhos humanos. Inegavelmente, esta foi a descoberta arqueológica mais sensacional dos últimos tempos, porque veio provar a autenticidade da Bíblia e a sua maravilhosa conservação através dos séculos.


13-VERSÕES, TRADUÇÕES E REVISÕES

13.1 Conceituação

Tradução é simplesmente a transposição de uma composição literária de uma língua para outra. Por exemplo, se a Bíblia fosse transcrita dos originais hebraico e grego para o latim, ou do latim para o português, chamaríamos esse trabalho tradução. Se esses textos traduzidos fossem vertidos de volta para as línguas originais, também chamaríamos isso tradução.

A tradução literal é uma tentativa de expressar, com toda a fidelidade possível e o máximo de exatidão, o sentido das palavras originais do texto que está sendo traduzido. Trata-se de uma transcrição textual, palavra por palavra. O resultado é um texto um tanto rígido.
A transliteração é a versão das letras de um texto em certa língua para as letras correspondentes de outra língua. É claro que uma tradução literal da Bíblia fica sem sentido para uma pessoa de pouca cultura.

Versão, tecnicamente falando é uma tradução da língua original (ou com consulta direta a ela) para outra língua, ainda que comumente se negligencie essa distinção. O segredo para a compreensão é que a versão envolve a língua original de determinado manuscrito.

Revisão, ou versão revista, é termo usado para descrever certas traduções, em geral feitas a partir das línguas originais, que foram cuidadosa e sistematicamente revistas, cujo texto foi examinado de forma crítica, com vistas em corrigir erros ou introduzir emendas ou substituições.

Paráfrase é uma tradução "livre" ou "solta". O objetivo é que se traduza a idéia, e não as palavras. Daí que a paráfrase é mais uma interpretação que uma tradução literal do texto. O comentário é simplesmente uma explicação das Escrituras. O exemplo mais antigo desse tipo de trabalho é o “Midrash”, ou comentário judaico do Antigo Testamento.




13.2 Versões e Traduções mais Antigas

As traduções mais antigas apareceram antes do período dos Concílios da Igreja (350 d.C.), abarcando obras como Pentateuco Samaritano, os Targuns Aramaicos, o Talmude, o Midrash e a Septuaginta (LXX).
13.2.1 O Pentateuco Samaritano

Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 187), “o Pentateuco samaritano pode ter-se originado no período de Neemias, em que se reedificou Jerusalém. Não sendo na verdade uma tradução, nem versão, mostra a necessidade do estudo cuidadoso para que se che¬gue ao verdadeiro texto das Escrituras”. Essa obra foi, de fato, uma por¬ção manuscrita do texto do próprio Pentateuco. Contém os cinco livros de Moisés, tendo sido escrito num tipo paleo-hebraico, muito semelhante ao que se encontrou na pedra moabita, na inscrição de Siloé, nas Cartas de Laquis e em alguns manuscritos bíblicos mais antigos de Qumran. A tradição textual do Pentateuco samaritano é independente do Texto massorético. Não foi descoberto pelos estudiosos cristãos senão em 1616, embora fosse conhecido dos pais da igreja, como Eusébio de Cesaréia e Jerônimo, tendo sido publicado pela primeira vez na obra Poliglota de Paris (1645) e, depois, na Poliglota de Londres (1657).
O manuscrito mais antigo do Pentateuco samaritano data de meados do século XIV e trata-se de um fragmento de um pergaminho o rolo chamado Abisa. O códice do Pentateuco samaritano mais antigo traz uma nota sobre ter sido vendido em 1149-1150 d.C, embora fosse muito mais velho. A Biblioteca Pública de Nova Iorque abriga outro exemplar que data de cerca de 1232. Imediatamente após a descoberta desse exemplar, em 1616, o Pentateuco samaritano foi aclamado como superior ao Texto massorético. No entanto, depois de cuidadoso estudo, foi relegado a posi¬ção inferior. Só recentemente esse documento reobteve um pouco de sua antiga importância, ainda que seja considerado até hoje de menor im¬portância do que o texto massorético da lei. Os méritos do texto do Pentateuco samaritano podem ser avaliados pelo fato de apresentar ape¬nas 6 000 variantes em relação ao Texto massorético, e em sua maior parte constituem diferenças ortográficas que se considerariam insignificantes. Há ali a afirmativa de que o monte Gerizim é o centro de adoração, e não a cidade de Jerusalém, com acréscimos aos relatos de Êxodo 20.2-17 e Deuteronômio 5.6-21. (GEISLER; NIX, 1997, p. 188).
13.2.2 Os Targuns

Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 188), “há evidências de que os escribas, já nos tempos de Esdras (Ne 8.1-8), estavam escrevendo paráfrases das Escrituras hebraicas em aramaico. Não estavam produzindo traduções, mas textos explicativos da linguagem arcaica da Tora”. Antes do nascimento de Cristo, quase todos os livros do Antigo Testamento tinham suas paráfra¬ses ou interpretações (targuns). Ao longo dos séculos seguintes o targum foi sendo redigido até surgir um texto oficial.

Os mais antigos targuns aramaicos provavelmente foram escritos na Palestina, durante o século II d.C, embora haja evidências de alguns textos amaraicos de um período pré-cristão. Esses textos primitivos, oficiais, do targum, continham a lei e os profetas, embora targuns de épocas posterio¬res também incluíssem outros escritos do Antigo Testamento.

Durante o século III d.C., surgiu na Babilônia um targum aramaico sobre a Tora. Possivelmente se tratasse de uma versão corrigida de texto palestino antigo; mas também poderia ter-¬se originado na Babilônia, tendo sido tradicionalmente atribuído a Onquelos (Ongelos), ainda que tal nome provavelmente resultasse de confusão com Áqüila.

O Targum de Jônatas ben Uzziel é outro targum babilônico em aramaico, que acompanhava os profetas (os primeiros e os últimos). Data do século IV, sendo uma tradução mais livre do texto que a tradução de Onquelos. Esses targuns eram lidos nas sinagogas: o texto de Onquelos ao lado da Tora, que se liam em sua inteireza; Jônatas era lido ao lado de seleções dos profetas (haphtaroth, pl.). Visto que as demais partes do An¬tigo Testamento (escritos) não eram lidas nas sinagogas, não se produziu nenhum targum oficial, mas havia cópias não-oficiais usadas pelas pes¬soas de modo particular.

Pelos meados do século VII surgiu o Targum do pseudo-Jônatas, sobre o Pentateuco. Trata-se de uma mistura do Targum de Onquelos e alguns textos do Midrash. Outro targum apareceu ao redor do ano 700, o Targum de Jerusalém, do qual sobreviveu apenas um frag¬mento.

13.2.3 O Talmude

O Talmude basicamente representa as opiniões e as decisões de professores judeus de cerca de 300 a 500 d.C., consistindo em duas principais divisões: o Midrash e a Gemara. A Mishna (repetição, explicação) completou-se perto de 200 d.C., como se fora um digesto – publicação composta de artigos, livros condensados - hebraico de todas as leis orais, desde o tempo de Moisés. Era altamente considerada como a segunda lei, sendo a Tora a primeira. A Gemara (término, finalização) era um comentário ampliado, em aramaico, da Mishna. Foi transmitida em duas tradições: a Gemara palestina (c. 200) e a Gemara babilônica, maior, dotada de mais autoridade (c. 500).

13.2.4 O Midrash

O Midrash (lit., estudo textual) na verdade era uma exposição formal, doutrinária e homilética das Sagradas Escrituras, redigida em hebraico ou em aramaico. De mais ou menos 100 até 300 d.C., esses escritos foram reuni¬dos num corpo textual a que se deu o nome de Halaka (procedimento), que era uma expansão adicional da Tora, e Hagada (declaração, explicação), ou comentários de todo o Antigo Testamento. O Midrash de fato diferia do Targum neste ponto: o Midrash eram comentários, em vez de paráfrases. O Midrash contém algumas das mais antigas hornilias do Antigo Testamento, bem corno alguns provérbios e parábolas, textos usados nas sinagogas.

13.2.5 Septuaginta (LXX)

Bastante conhecida através da sigla LXX, é a mais importante tradução grega do Velho Testamento. Seria interessante pensar por alguns instantes qual a razão de um livro hebraico ser traduzido para o grego numa cidade do Egito? A História nos confirma que Alexandre Magno, com suas extraordinárias conquistas levou o grego a quase todas as partes do mundo conhecido. Sua morte prematura em 323 a.C. fez com que seu império fosse dividido. Cabendo a Ptolomeu I (323-285) governar o Egito, iniciando assim a dinastia dos reis gregos no Egito. Calcula-se que no tempo de Ptolomeu II, a cidade de Alexandria era composta por um terço de judeus. Como era de se esperar esses imigrantes judeus facilmente adotaram a língua dos gregos.

Dias Gomes citando Flávio Josefo, fornece-nos pormenores úteis sobre a origem desta antiga tradução. Eis uma síntese de suas palavras:

Demétrio Palério, bibliotecário de Ptolomeu Filadelfo, trabalhava com extremo cuidado e grande curiosidade para reunir de todas as partes do mundo os livros de mérito e que julgava serem agradáveis ao príncipe. Certo dia o príncipe perguntou-lhe quantos livros já havia na Biblioteca e soube que mais ou menos 200.000. Notificou também ao rei a existência entre os judeus de livros dignos de figurarem na soberba biblioteca, mas dariam muito trabalho traduzi-los para o grego. Acrescentou que este trabalho poderia ser feito porque sua majestade não olhava a gastos. O rei, persuadido pelo ilustre bibliotecário, fez um apelo ao sumo-sacerdote de Jerusalém para que lhe enviasse os livros e pessoas capacitadas para os traduzir. O pedido foi imediatamente atendido, talvez, porque acompanhando-o havia grande soma de dinheiro e pedras preciosas. Ptolomeu, recebeu através de uma carta a seguinte notificação: "Escolhemos, Senhor, seis homens de cada tribo para vos levar as santas leis e esperamos da vossa bondade, quando não tenhais mais necessidade deles, que vos dignareis remetê-los com os que vão em sua companhia." Eleazar. Quando a obra foi acabada (segundo alguns em 72 dias), Demétrio reuniu todos os judeus para que ouvissem a leitura da tradução, na presença dos 72 tradutores. A tradução foi aprovada e Demétrio elogiado por ter concebido um desígnio que lhes era tão vantajoso. (JOSEFO, Flávio. Apud. GOMES, Dias. Bíblia Poliglota Portuguesa, p. 26-28).

Para alguns esta história é lendária, sendo a verdadeira razão para a origem da Septuaginta a seguinte: Havendo em Alexandria muitos judeus que não podiam ler o Velho Testamento no original hebraico, uma tradução em grego lhes foi preparada. Por causa do número de tradutores essa extraordinária tradução se tornou conhecida (um tanto inexatamente) como Septuaginta.

A Septuaginta é comumente designada por LXX. O nome vem do latim Septuaginta, que quer dizer 70. Aristeas, escri¬tor da corte de Ptolomeu Filadelfo, que reinou de 285-246 a.C., escrevendo a seu irmão Filócrates, conta que o referi¬do monarca, por proposta de seu bibliotecário, Demétrio de Falero, solicitou ao sumo sacerdote judaico, Eleazar, que lhe enviasse doutores versados nas Sagradas Escritu¬ras para preparar-lhe uma versão delas, em grego. Ele muito ouvia falar das Escrituras e queria uma versão de¬las, para enriquecer sua vasta biblioteca, em Alexandria. O sumo sacerdote escolheu 72 eruditos (6 de cada tribo) e enviou-os a Alexandria, os quais completaram a versão em 72 dias. De 72 derivou-se o nome Sep¬tuaginta. (Gilberto, Antonio, 1986, p. 84)

A tradução foi feita na ilha de Faros, situada no porto da cidade. Essa Bíblia teve a mais ampla difusão entre as nações, especialmente naquelas onde estavam os judeus da dispersão oriunda do cativeiro. Foi a Septuaginta a primeira tradução completa do Antigo Testamento, do original hebraico. Foi também ela que situou e di¬vidiu os livros por assuntos como os temos hoje: Lei, Histó¬ria, Poesia, Profecia. Não há um só exemplar original da Versão dos Setenta; somente cópias, a mais antiga das quais data de 325 d.C. É ela a mais antiga tradução da Bíblia hebraica. A Septuaginta é usada ainda hoje na Igreja Grega. Sua primeira aparição impressa é a cons¬tante da Complutensiana Poliglota publicada em Alcalá, província de Madri, em 1514-1517, e distribuída em 1522 pelo Cardeal Ximenes.

13.2.6 A versão de Áqüila

A versão de Áqüila, natural de Sínope, cidade do Ponto. É uma tradução puramente literal. Contém só o Antigo Testamento. Foi feita em 138 d.C., no reinado de Adriano. Existe em fragmentos.

13.2.7 A versão de Teodocião

A versão de Teodocião, natural de Éfeso, coevo de Justino Mártir, que o menciona em seus escritos. Foi feita em 160 d.C., no tempo do Imperador Cômodo. Não é mais que uma revisão dos LXX. Contém só o Antigo Testamento. Teodocião era ebionita.

13.2.8 A versão de Símaco
A versão de Símaco, feita em 218. Só do Antigo Testamento. Símaco era também ebionita. Existe em fragmentos.

13.2.9 A Héxapla, de Orígenes

A Héxapla, de Orígenes. Não é propriamente uma versão; é obra compendiada. Devido a falhas na tradução da Septuaginta, Orígenes, grande erudito da igreja primi¬tiva, compôs, em Cesaréia, a Héxapla, ou versão de 6 colunas, em 228 d.C.

As seis colunas estão dispostas da di¬reita para a esquerda, assim: 1ª O texto hebraico; 2ª O texto grego traduzido do hebraico; 3ª A versão de Áquila; 4ª A versão de Símaco; 5ª A Septuaginta; 6ª A versão de Teodocião.
13.2.10 Revisões Depois da Hexapla

Fizeram ainda revisões na Septuaginta Luciano – fez seu trabalho mais ou menos pelo ano 300, pois foi martirizado em 311. Para esta revisão usou manuscritos hebraicos superiores aos usados por Orígenes e Hesíquio – sua revisão se processou na cidade de Alexandria e foi somente aceita no Egito.

13.2.11 Versões Siríacas

É provável que a primeira versão do Novo Testamento tenha sido feita na língua siríaca. Dentre as versões siríacas são dignas de nota as seguintes:

Siríaca Antiga. É uma versão dos quatro Evangelhos, conservada hoje com grandes lacunas nestes dois manuscritos. Embora estes manuscritos fossem copiados no 5º e 4º séculos respectivamente, a forma de texto que eles preservam data do fim do segundo século ou início do terceiro. O texto dos Evangelhos sofreu influências do Diatessaron de Taciano. Seu tipo de texto pertence ao grupo Ocidental.

Versão Peshita. Em siríaco a palavra peshita significa simples, comum, vulgar. Crêem alguns que a tradução foi feita por Rabbula, bispo de Edessa (411-432), cognominado o São Jerônimo da Igreja Síria. Outros afirmam que o autor é desconhecido, mas que a tradução foi feita para que o cristianismo pudesse propagar-se entre aquele povo. Por ser um trabalho muito bem feito, foi chamada "a rainha das versões". Contém todo o Velho Testamento sem os livros apócrifos. Do Novo Testamento não foram traduzidos II e III João, II Pedro, Judas e Apocalipse. Mais de 350 manuscritos da Peshita são conhecidos hoje, diversos dos quais datam do 5º e 6º séculos.

Versão Filoxênia. Esta é outra tradução bastante difícil de ser explicada pela Crítica Textual. Crê-se que Filóxeno, bispo de Mabugue, comissionou a tradução da Bíblia inteira baseada no grego, em 508 a.D.

Versão Siríaca da Palestina. É conhecida principalmente por um dicionário dos Evangelhos. Crêem os entendidos que seja uma tradução do quinto século.


14-VERSÕES LATINA E INGLESA

14.1 Versões Latinas

O latim era um idioma dominante nas regiões ocidentais do Império Romano desde muito antes dos dias de Jesus. Foram nas regiões ocidentais ao sul da Gália e na África do Norte que apareceram as primeiras traduções da Bíblia em latim. Segundo Philip W. Confort (1998, p. 235) “em cer¬ca de 160 d.C., Tertuliano notoriamente usou uma versão das Escrituras em latim. Não muito tempo depois, o texto em latim antigo parece ter estado em circulação, o que nos é evidenciado pelo uso de Cipriano antes de sua morte, em 258 d.C.”. A versão em latim antigo era uma tradução da Septuaginta. Manuscritos completos do texto em latim antigo não subsistiram. Depois que a versão latina, a Vulgata, foi com¬pletada por Jerônimo, o texto mais primitivo caiu em desuso.
14.1.1 A Vulgata latina

Segundo Philip W. Confort (1998, p. 236) “por volta do século III d.C., o latim começou a substituir o grego como língua de ensino no vasto mundo romano. Um texto uniforme e confiável era extremamente necessário para uso teológico e litúrgico”. Para preencher essa necessidade, o papa Dâmaso I (336-384 d.C.) encarregou Jerônimo, eminente erudito no latim, grego e hebraico, de fazer a tradução. Jerônimo começou o seu trabalho com uma tradução da Septuaginta em grego, considerada inspirada por muitas autoridades da Igre¬ja, inclusive Agostinho. Contudo, mais tarde, e sob risco de gran¬de crítica, voltou-se para o texto hebraico que então estava em uso na Palestina, como texto base para sua tradução. Durante o período de 390 a 405, Jerônimo fez sua tradução latina do Anti¬go Testamento hebraico. Não obstante, a despeito de ter se vol¬tado para o original hebraico, Jerônimo dependia grandemente das diversas versões gregas como auxílio à tradução. Por con¬seguinte, a Vulgata espelha as outras traduções gregas e latinas tanto quanto o texto hebraico fundamental.

14.1.1.1 Autor da Vulgata

Sofrônio Eusébio Jerônimo (c. 340-420) nascera de pais cristãos, em Estridão, na Dalmácia. Havia sido educado na escola local até sua ida a Roma, com a idade de doze anos. Durante os oito anos seguintes, Jerônimo estudou latim, grego e autores pagãos, antes de tornar-se cristão, com a idade de dezenove anos. Logo após sua conversão e batismo, Jerônimo devotou-se a uma vida de rígida abstinência e de serviço ao Senhor. Passou muitos anos perseguindo uma vida semi-ascética de eremita. De 374 a 379, empregara um rabino judeu para que lhe ensinasse o hebraico, enquanto estivesse residindo no Oriente, perto de Antioquia. Foi ordenado presbítero em Antioquia antes de partir para Constantinopla, onde passou a estudar sob a orientação de Gregório de Nazianzo. Em 382, foi convocado por Roma para ser secretário de Dâmaso, bispo de Roma, e nomeado membro de uma comissão para revisar a Bíblia latina.

14.1.1.2 A Data e o Lugar da Tradução da Vulgata Latina

Jerônimo recebeu a incumbência em 382 e iniciou seu trabalho quase imediatamente. A pedido de Dâmaso introduziu uma ligeira revisão nos evangelhos, completada em 383. Logo após ter terminado a revisão dos evangelhos, morre-lhe o mecenas (384), tendo sido eleito novo bispo de Roma. Jerônimo, que aspirava a esse cargo, já havia terminado uma revisão rápida do chamado Saltério romano quando regressou ao Oriente e se estabeleceu em Belém. De volta a Belém, Jerônimo voltou sua atenção a uma revisão mais cuidadosa do Saltérío romano, que completou em 387. Essa revisão é conhecida como Saltério galileu, empregado atualmente no Antigo Testamento da Vulgata. Baseou-se de fato nos Héxapla de Orígenes, a quinta coluna, sendo mera tradução dos Salmos. Tão logo havia terminado sua revisão dos Salmos, Jerônimo iniciou a revisão da LXX, embora esse trabalho não fizesse parte de seus objetivos iniciais. Estando em Belém, Jerônimo havia iniciado seu trabalho de aperfeiçoar seus conhecimentos do hebraico, de modo que pudesse executar uma nova tradução do Antigo Testamento diretamente das línguas originais. Os amigos ao redor aplaudiram seus esforços, mas outros, muito longe, começaram a suspeitar que Jerônimo estaria judaizando; alguns se enfureceram quando Jerônimo lançou dúvidas sobre a “inspiração da Septuaginta”. Traduziu o Saltério hebraico com base no texto hebraico usado na época, na Palestina. Finalmente, em 405, completou sua tradução latina do Antigo Testamento hebraico. Nos últimos quinze anos de vida, Jerônimo continuou escrevendo, traduzindo e revisando sua tradução do Antigo Testamento.
Jerônimo pouca atenção deu aos apócrifos; só com grande relutância produziu uma tradução apressada de algumas passagens de Judite, de Tobias e do resto de Ester, mais as adições de Daniel - antes de morrer. O resultado foi que a versão dos livros apócrifos, pertencente à Antiga latina, foi adicionada à Bíblia chamada Vulgata latina na Idade Média, sobre o cadáver de Jerônimo.
14.1.2 Versões, Traduções e Paráfrase em Inglês

Segundo Philip W. Confort (1998, p. 361), “no século VI, o Evangelho foi levado para a Inglaterra pelos missionários de Roma. A Bíblia que levaram foi a Vulgata Latina. Nessa época, os cristãos que viviam na Inglaterra dependiam dos monges para qualquer tipo de instrução relacionada à Bíblia. Os monges liam e ensinavam a Bíblia latina”. Depois de alguns séculos, quando mais mos¬teiros foram fundados, surgiu a necessidade de traduções da Bíblia em inglês. A mais antiga tradução em inglês, até onde sabemos, é a que foi feita por um monge do século VII, chamado Cedmon, que fez uma versão métrica de partes do Antigo e do Novo Testamento. Acredita-se que outro clérigo inglês, chamado Bede, traduziu os evangelhos para o inglês. Diz a tradição que, em 735, esse clérigo estava traduzindo o Evangelho de João em seus últimos momentos de vida. Ou¬tro tradutor foi Alfredo, o Grande (que reinou de 871 a 899), considerado por todos como um rei muito letrado. Incluiu em suas leis trechos dos Dez Mandamentos traduzidos para o inglês e também traduziu os Salmos.

14.1.2.1 Desenvolvimento da Língua Inglesa
Segundo Norman Geisler (1997, p. 219), “não se sabe com certeza como a língua inglesa se desenvolveu, mas a maioria dos estudiosos segue a orientação de Beda, o Venerável (c. 673¬-735), que data seu início em cerca de 450 da era cristã”. O período de 450 a 1100 é denominado anglo-saxônico, ou do antigo inglês, por ter sido do¬minado pela influência dos anglos, dos saxões e dos jutos em seus vários dialetos. Após a invasão normanda de 1066, a língua sofreu a influência de dialetos escandinavos, e o período do médio inglês apareceu de 1100 a 1500. Esse foi o período de Geoffrey Chaucer (1340-1400) e de John Wycliffe. Após a invenção da prensa móvel por Johann Gutenberg (c. 1454), o inglês entrou em seu terceiro período de desenvolvimento: o do inglês moderno (1500 até o presente). Esse período de desenvolvimento foi precipitado pela grande mudança vocálica no século que se seguiu à morte de Chaucer e precedeu ao nascimento de William Shakespeare.

14.1.2.2 As Traduções Parciais para o Antigo Inglês (450-1100)

Segundo Norman Geisler (1997, p. 220), “as primei¬ras traduções de partes das Escrituras basearam-se nas traduções da Antiga latina e da Vulgata, e não nas línguas originais, o hebraico e o gre¬go, e nenhuma delas continha o texto da Bíblia toda. Não obstante, elas ilustram a maneira pela qual a Bíblia entrou para a língua inglesa”.
Aldhelm (640-709). Aldhelm foi o primeiro bispo de Sherborne em Dorset. Logo depois do ano 700, ele traduziu o Saltério para o antigo inglês. Foi a primeira tradução direta de qualquer parte da Bíblia para a língua inglesa.

Egberto (700). Egberto da Nortúmbria tomou-se arcebispo de Iorque pouco depois da morte de Beda. Ele foi também o mestre de Alcuíno de Iorque, que foi mais tarde chamado por Carlos Magno para estabelecer uma escola na corte de Aix-Ia-Chapelle (Aachen). Por volta de 705, Egberto traduziu os evangelhos para o antigo inglês pela primei¬ra vez.

Beda, o Venerável (674-735). Maior estudioso da Inglaterra e um dos maiores de toda a Europa dos seus dias, Beda residiu em Jarrow-on-the¬-Tyne, na Nortúmbria. De lá, ele escreveu sua famosa História eclesiástica e outras obras. Entre essas obras encontrava-se uma tradução do evange¬lho de João, cujo propósito foi provavelmente o de suplementar os três outros traduzidos por Egberto. Segundo relatos tradicionais, Beda ter¬minou a tradução na hora da morte.

Alfredo, o Grande (849-901). Alfredo foi um estudioso de primeira, além de ter sido rei da Inglaterra (870-901). Durante seu reinado, a Lei Danesa foi estabelecida sob o Tratado de Wedmore (878). O tratado continha so¬mente duas estipulações para os novos súditos: batismo cristão e fideli¬dade ao rei. Juntamente com sua tradução da História eclesiástica de Beda do latim para o anglo-saxão, ele também traduziu os Dez mandamentos, excertos do Êxodo, 21-23, de Atos, 15.23-29, e uma forma negativa da Regra áurea. Foi durante o seu reinado que a Inglaterra experimentou um reavivamento do cristianismo.

Aldred (950). Outro elemento foi introduzido na história da Bíblia inglesa quando Aldred escreveu um comentário nortumbriano entre as linhas de uma cópia dos evangelhos escrita no latim do final do século VII. É da cópia latina de Eadfrid, bispo de Lindisfarne (698-721), que a obra de Aldred recebe seu nome, os Evangelhos de Lindisfarne.

Aelfric (1000). Aelfric foi bispo de Eynsham, em Oxfordshire, Wessex, quando traduziu partes dos sete primeiros livros do Antigo Tes¬tamento. Essa tradução e outras partes do Antigo Testamento que ele traduziu e citou em suas homilias basearam-se no texto latino. Mesmo antes da época de Aelfric, os Evangelhos de Wessex foram traduzidos para o mesmo dialeto. Esses elementos constituem a primeira tradução exis¬tente dos evangelhos para o antigo inglês.

14.1.2.3. As reduções parciais para o médio inglês (1100-1400)

Segundo Norman Geisler (1997, p. 221), “a conquista normanda (1066) deu-se graças à disputa em torno do tro¬no de Eduardo, o Confessor. Com ela, o período do domínio saxônico na Inglaterra chegou ao fim, e um período de influência normando-francesa se fez sentir sobre a língua dos povos conquistados. Durante esse período de domínio normando foram feitas outras tentativas de traduzir a Bíblia para o inglês”.

Orm ou Ormin (1200). Orm foi um monge agostiniano que escre¬veu uma paráfrase poética dos evangelhos e de Atos acompanhada de comentário. Essa obra, o Ormulum, é preservada em um único manuscri¬to de 20.000 palavras. Embora o vocabulário seja puramente teutônico, a cadência e a sintaxe mostram a influência normanda.

Guilherme de Shoreham (1320). Shoreham freqüentemente recebe o crédito de ter produzido a primeira tradução em prosa de uma parte da Bíblia para um dialeto sulista do inglês, embora exista alguma dúvida quanto a ele ter sido realmente o tradutor dessa obra de 1320.

Ricardo Rolle (1320-1340). Rolle é conhecido como o "Eremita de Hampole". Foi responsável pela segunda tradução literal das Escrituras para o inglês. Vivendo perto de Doncaster, em Yorkshire, fez sua tradu¬ção da Vulgata latina para o dialeto inglês do norte. Sua tradução do Saltério foi amplamente divulgada e reflete o desenvolvimento da tradução da Bíblia inglesa até a época de John Wycliffe.

14.1.2.4 As Traduções Completas para o Médio Inglês e para o Inglês Moderno em Fase Inicial

Embora não houvesse nenhuma Bíblia completa em inglês antes do século XIV, diversos indícios apontavam para o aparecimento iminente de uma. A ampla circulação do Saltério literal de Rolle na exata época em que a corte papal passava por lutas se associou ao chamado cativeiro babilônico (1309-1377). Esse acontecimento e suas conseqüências forma¬ram o pano de fundo para a obra de outros tradutores bíblicos.

A Bíblia de Wycliffe. João Wycliffe (c. 1329-1384) - O mais eminente teólogo oxfordiano de seus dias - e seus associados foram os pri¬meiros a traduzir a Bíblia inteira do latim para o inglês. Segundo Philip W. Confort (1998, p. 363), “Wycliffe foi chamado de a Estrela da Manhã da Reforma", porque audaciosamente questionou a autoridade papal, cri¬ticou a venda de indulgências, negou a realidade da transubstanciação (doutrina que diz que a substância do pão e do vinho é mudada em corpo e sangue de Jesus Cristo durante a missa) e falou abertamente contra as hierarquias eclesiásticas. O papa condenou Wycliffe por seus ensinamentos "heréticos" e pediu que a Universidade de Oxford o demitisse. Mas Oxford e muitos líderes governistas permaneceram ao lado de Wycliffe, de modo que conse¬guiu sobreviver aos ataques do papa.

Wycliffe acreditava que o caminho para prevalecer em sua luta contra a autoridade abusiva da Igreja Católica era tor¬nar a Bíblia acessível às pessoas em sua própria língua. Des¬se modo, poderiam ler por si mesmas acerca da forma como cada uma poderia ter um relacionamento pessoal com Deus através de Jesus Cristo - independente de qualquer autori¬dade eclesiástica. Wycliffe, com seus associados, completa¬ram o Novo Testamento por volta de 1380 e o Antigo Testa¬mento em 1382. Enquanto Wycliffe concentrava seus esfor¬ços no Novo Testamento, um de seus associados, Nicolau de Hereford, fazia uma parte importante do Antigo Testamen¬to. Wycliffe e seus companheiros, desconhecedores do hebraico e do grego originais, traduziram o texto do latim para o inglês. Depois de Wycliffe ter terminado seu trabalho de tradu¬ção, organizou um grupo de paroquianos pobres, conhecido como lolardos, para irem por toda a Inglaterra pregando as verdades cristãs e lendo as Escrituras na língua materna a todos os que ouvissem a Palavra de Deus. O resultado desse empreendimento foi que a Palavra de Deus, através da tra¬dução de Wycliffe, tornou-se acessível a muitos ingleses.

Um dos associados mais chegados de Wycliffe, João Purvey (c. 1353-1428), continuou a obra de Wycliffe, lançan¬do, em 1388, uma revisão de sua tradução. Purvey era um excelente erudito. Seu trabalho foi muito bem recebido por sua geração e pelas que se seguiram. Menos de um século depois, a edição revista de Purvey havia substituído a Bíblia inicial de Wycliffe.

William Tyndale (1492-1536). Após tentativas malfadadas de fazer sua tradução na Ingla¬terra, William Tyndale embarcou para o Continente em 1524. Após outras dificuldades, finalmente imprimiu o Novo Testamento em Colônia, no fim de feverei¬ro de 1526. Seguiu-se uma tradução do Pentateuco, em Marburgo (1530), e de Jonas, na Antuérpia (1531). Conforme Norman Geisler (1997, p. 224) “as influências de Wycliffe e de Lutero eram evidentes no trabalho de Tyndale e o mantiveram sob constantes ameaças. Além disso, essas ameaças eram tantas, que as traduções de Tyndale tiveram de ser contrabandeadas para a Inglaterra. Tendo chega¬do lá, exemplares foram comprados por Cuthbert Tunstall, bispo de Lon¬dres, que as fez queimar publicamente em St. Paul's Cross”. Conforme Norman Geisler (1997, p. 224) “em 1534, Tyndale publicou sua revisão do Gênesis e começou a traba¬lhar numa revisão do Novo Testamento. Pouco depois de completar essa revisão, foi seqüestrado na Antuérpia e levado à fortaleza de Vilvorde, em Flandres. Ali continuou a traduzir o Antigo Testamento”.

A Bíblia de Coverdale. Miles Coverdale era graduado de Cambridge e, como Tyndale, havia sido forçado a fugir da Inglaterra, porque fora grandemente influenciado por Lutero, à medida que auda¬ciosamente pregava contra a doutrina católica. Enquanto estava no exterior, Coverdale encontrou-se com Tyndale e então passou a servi-lo de assistente - sobretudo ajudan¬do-o na tradução do Pentateuco. Pela época em que Coverdale publicava uma tradução completa (1537), o rei da Inglaterra, Henrique VIII, rompia todas as relações com o papa e estava pronto para aceitar a publicação de uma Bíblia em Inglês.

A Bíblia de Rogers e a Bíblia Grande (1537). No mesmo ano em que a Bíblia de Coverdale foi endossa¬da pelo rei (1537), outra Bíblia foi publicada na Inglaterra. Tra¬tava-se do trabalho de alguém chamado Thomas Matthew, pseudônimo de João Rogers (c. 1500-1555), amigo de Tyndale. Obviamente, Rogers usou a tradução inédita dos livros histó¬ricos do Antigo Testamento feita por Tyndale, outras porções traduzidas por Tyndale e ainda outras porções da tradução de Coverdale para formar uma Bíblia inteira. Esta Bíblia tam¬bém recebeu a aprovação do rei. A Bíblia de Rogers foi revisa¬da em 1538 e impressa para distribuição nas igrejas de toda a Inglaterra. Conhecida como a Bíblia Grande por causa do seu tamanho e preço elevado, tomou-se a primeira Bíblia em in¬glês autorizada para uso público.

A Bíblia de Genebra (1524-1579). Os ingleses exilados em Genebra, Suíça, escolheram William Whittingham (1524-1579) para lhes fazer uma tradução em inglês do Novo Testamento. Whittingham usou a tradução latina de Teodoro Beza e consultou o texto grego. Essa Bíblia tornou-se muito popular, porque era pe¬quena e de preço moderado. O prefácio e suas muitas ano¬tações estavam impregnadas por forte influência evangéli¬ca, bem como pelos ensinamentos de João Calvino. Calvino foi um dos maiores pensadores da Reforma, renomado co¬mentarista bíblico e o principal líder em Genebra durante essa época.

A Bíblia do rei Tiago – A King James Version (1611). Em janeiro de 1604, Tiago I foi convocado a comparecer à Conferência de Hampton Court. Na ocasião John Reynolds, presidente pu¬ritano da Faculdade Corpus Christi, em Oxford, levantou a questão de ser feita uma versão autorizada da Bíblia para todos os partidos dentro da igreja. Foi nomeada uma junta. Seis grupos de tradutores foram escolhidos: dois em Cambridge para revisar de 1Crônicas a Eclesiastes e os livros apócrifos; dois em Oxford para revisar de Isaías a Malaquias, os evangelhos, Atos e o Apocalipse; dois em Westminster para revisar de Gênesis a 2Reis e de Romanos a Judas. Apenas 47 dos 54 homens escolhidos trabalharam de fato nessa revisão da Bíblia dos bispos.

As notas marginais acompanharam a nova revisão, e a chamada Ver¬são autorizada nunca chegou a ser de fato autorizada, nem ser de fato uma versão. Ela substituiu a Bíblia dos bispos nas igrejas porque nenhuma edição dessa Bíblia foi publicada depois de 1606.
Três edições da nova tradução apareceram em 1611. Outras edições foram publicadas em 1612. Durante o reinado de Carlos I (1625-1649), o Parlamento Lon¬go estabeleceu uma comissão para deliberar sobre a revisão da chamada Versão autorizada ou produzir uma tradução totalmente nova. Somente revisões insignificantes resultaram em 1629, 1638, 1653, 1701, 1762, 1769 e duas edições posteriores. Essas três últimas revisões foram feitas pelo dr. Blayney de Oxford. Elas variaram em cerca de 75 mil pormenores do texto da edição de 1611. Pequenas mudanças continuaram a surgir no texto até datas recentes como 1967 no texto da Versão autorizada que acom¬panha a New Scofield reference edition [Nova edição de referência de Scofield]. Entrementes, foram feitas tentativas de trazer amplas altera¬ções e correções às traduções inglesas da Bíblia em virtude de novas des¬cobertas textuais e por conta da natureza mutável da própria língua (GEISLER, 1997, p. 231).


15-TRADUÇÕES E VERSÕES CASTELHIANAS E PORTUGUESAS

15.1 Traduções Castelhanas

A primeira tradução que se fez em castelhano foi o Novo Testamento surgido em 1543. Foi obra do jovem reformador Francisco de Enzinas. Filho de pais nobres e ricos foi enviado a estudar nos Países Baixos, onde recebeu decisiva influência dos reformadores. Dirigiu-se posteriormente à Alemanha para conhecer Melanchton, em cuja casa se hospedou. Estudando na Universidade de Wittenberg e encorajado por Melanchton dedicou-se à sublime tarefa de traduzir o Novo Testamento do original grego para a sua língua nativa.

A segunda tradução para o espanhol é a conhecida "Bíblia de Ferrara" que em realidade não contém senão o Antigo Testamento. Esta versão foi obra de certos eruditos judeus, que por questões religiosas foram desterrados da Península Ibérica. Radicaram-se na Itália, onde havia maior liberdade em questões religiosas. Reunidos em Ferrara quatro bons conhecedores do hebraico e do espanhol, com manuscritos originais a sua disposição não lhes foi muito difícil concluir a tarefa a que se propuseram.

A primeira tradução completa da Bíblia para a língua castelhana foi obra de Casiodoro de Reina, que nascera ao sul da Espanha em 1520.

Após ter estudado para sacerdote, tornou-se pregador evangélico, razão porque teve de fugir da Espanha. Trabalhou 12 anos nesta tradução, que foi publicada em Basiléia no ano de 1569. Baseou seu trabalho em manuscritos originais, mas teve auxílio de traduções anteriores, como a grande versão de Ferrara (1533).

15.2 Traduções Portuguesas

Neste capítulo apresentaremos um breve histórico da tradução da Bíblia em português, tanto em Portugal quanto no Brasil.

15.2.1 Período das Traduções Parciais

D. Diniz (1279-1325) foi a primeira pessoa a traduzir para a língua portuguesa o texto bíblico. Grande conhecedor do latim clássico, e leitor da Vulgata, D. Diniz resolveu enriquecer o português traduzindo as Sagradas Escrituras para o nosso idioma, tomando como base a Vulgata Latina. Embora lhe faltasse perseverança e só conseguisse traduzir os vinte primeiros capítulos do livro de Gênesis, esse seu esforço o colocou em uma posição histo¬ricamente anterior a alguns dos primeiros tradutores da Bíblia para outros idiomas, como João Wycliff, por exem¬plo, que só em 1380 traduziu as Escrituras para o inglês.

Fernão Lopes disse em seu curioso estilo de cronista do século XV, que D. João I (1385-1433), um dos sucessores de D. Diniz no trono português, “fez grandes letrados tirar em linguagem os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as epístolas de São Paulo, para que aqueles que os ouvissem fossem mais devotos acerca da lei de Deus”. (Crônica de D. João I, 2ª. Parte). Esses “grandes letrados” eram vários padres que também se utilizaram da Vulgata Latina em seu trabalho de tradução.

Enquanto esses padres trabalhavam, D. João I, também conhecedor do latim, traduziu o livro de Salmos, que foi reunido aos livros do Novo Testamento traduzidos pelos padres. Seu sucessor, D. João lI, outro grande apoiador das traduções do texto bíblico, mandou gravar no seu cetro a parte final do versículo 31 de Romanos 8: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.

Como nessa época a imprensa ainda não havia sido inventada, os livros eram produzidos em forma manuscrita, fazendo-se uso de folhas de pergaminho. Isso tornava sua circulação extremamente reduzida. Por ser um trabalho lento e caro, era necessário que ou a Igreja Romana ou alguém muito rico assumisse os custos do projeto. Ninguém mais indicado para isto do que os nobres e os reis.

Outras figuras da monarquia de Portugal também realizaram traduções parciais da Bíblia. A neta do rei D. João I e filha do Infante D. Pedro, a Infanta D. Filipa, traduziu do francês os Evangelhos. No século XV surgiram publicados em Lisboa o Evangelho de Mateus e porções dos demais Evangelhos, um trabalho realizado pelo frei Bernardo de Alcobaça, que pertenceu à grande escola de tradutores portugueses da Real Abadia de Alcobaça. Ele baseou suas traduções na Vulgata Latina.

A primeira harmonia dos Evangelhos em língua portu¬guesa, preparada em 1495 pelo cronista Valentim Fernandes, e intitulada De Vita Christi, teve os seus custos de publicação pagos pela rainha Dona Leonora, esposa de D. João II. Cinco anos após o descobrimento do Brasil, D. Lenora mandou também imprimir o livro de Atos dos Apóstolos e as epístolas universais de Tiago, Pedro, João e Judas, que haviam sido traduzidos do latim vários anos antes por frei Bernardo de Brinega.

Em 1566 foi publicada em Lisboa uma gramática hebraica para estudantes portugueses. Ela trazia em português, como texto básico, o livro de Obadias.

15.2.1.1 Outras Traduções

Outras traduções em língua portuguesa, realizadas em Por¬tugal, são dignas de menção: Os quatro Evangelhos, traduzidos em elegante portu¬guês pelo padre jesuíta Luiz Brandão. No início do século XIX, o padre Antônio Ribeiro dos Santos traduziu os Evangelhos de Mateus e Marcos, ainda hoje inéditos.

É fundamental salientar que todas essas obras sofreram, ao longo dos séculos, implacável perseguição da Igreja Roma¬na, e de muitas delas só escaparam um ou dois exemplares, hoje raríssimos. A Igreja Romana também amaldiçoou a todos os que conservassem consigo essas traduções da Bíblia em idioma vulgar (BÍBLIA THOMPSON, 1992, p. 1379).

15.2.2 Tradução de João Ferreira de Almeida
A Edição Comemorativa do Terceiro Centenário da Tradução da Bíblia em língua portuguesa, apresentou para João Ferreira de Almeida as seguintes informações: "Nascido em Torres de Tavares, Conselho de Mangualde, Portugal, em 1628, faleceu, João Ferreira de Almeida, em 1691”. Temos aqui 63 anos que se dignificaram na vida do consagrado servo de Deus. É consagrado no campo da cultura secular, versado na lingüística, incansável na comparação das línguas que aprendeu e usou, valeu-se de sua língua nativa, a portuguesa, para a expressão geral e ampla de suas obras principais, destacando-se, dentre elas, a tradução que fez da Bíblia, dos originais hebraico e grego para a língua portuguesa.

João Ferreira de Almeida foi quem primeiro traduziu a Bíblia para o nosso vernáculo. Português ele, de três séculos idos, é certo que ainda falando e escrevendo corretamente, com segura inteligência das proposições, das frases e das palavras teve linguagem que hoje seria distante e até, não raro, diferente para as sucessivas edições da Bíblia, segundo ele a traduziu, porque a evolução semântica da linguagem, por vezes, impõe mudanças de palavras para que se não mude o sentido das mensagens.

Há 300 anos (1681) João Ferreira de Almeida traduziu o Novo Testamento, em Amsterdã; e daí avante, sua publicação (Batávia, 1693), novamente em Amsterdã (1712); em Trangambar,1760; e outra vez em Batávia, 1773.

Incansável no trabalho, traduziu também o Antigo Testamento, mas até o versículo 12 do capítulo 48 de Ezequiel.
Em 1656, Almeida foi ordenado pastor da Igreja Reformada, mas sempre desejoso de promover a Reforma em Portugal. De 1656 até 1658 foi missionário no Ceilão, depois na Índia, e foi o primeiro ordenado a pregar em português. De volta a Batávia, pastoreou a comunidade portuguesa ali existente.

Faleceu, dissemos, em 1691, todavia João Ferreira de Almeida até hoje influi com as traduções que deixou da Bíblia. A mais antiga versão usual no Brasil, entre os evangélicos, mereceu da Sociedade Bíblica do Brasil certa atualização na linguagem, pois dista três séculos a tradução do Almeida.

Na seção de Livros Raros da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, há um exemplar do Novo Testamento impresso em Amsterdã (1712).

15.2.2.1 A Tradução de Almeida Revisada

Duas entidades – Comissão Revisora e Comissão Consultiva – foram organizadas entre nós, sob os auspícios das Sociedades Bíblicas Unidas para se desincumbirem da sagrada responsabilidade de rever a Tradução de Almeida e atualizar a sua linguagem. Estas duas comissões em sua reunião inaugural, no dia 14 de abril de 1943, sob a presidência do destacado Pastor César Dacorso Filho, tratavam das "Razões por que necessitamos de uma revisão das atuais versões da Bíblia em Português". Os brasileiros contaram com o apoio irrestrito e a sábia experiência dos Secretários Executivos das Sociedades Bíblicas Unidas nesta primeira reunião, mas posteriormente o Secretário de Tradução da Sociedade Bíblica Americana, Dr. Eugene A. Nida visitou o nosso país com a finalidade precípua de orientar os trabalhos de tradução e revisão.

Depois de ponderados e minuciosos estudos das três traduções mais divulgadas no Brasil, ou sejam: Almeida, Figueiredo e da Tradução Brasileira de 1917, a comissão decidiu pela revisão da tradução Almeida, observando os seguintes tópicos: fidelidade ao texto original; tradução e não interpretação; clareza, correção e elegância de linguagem; cunho espiritual da linguagem; aproveitamento de outras versões e acesso às línguas originais.

De acordo com a Sociedade Bíblica do Brasil, o trabalho feito não foi uma nova tradução, mas uma revisão da tradução de João Ferreira de Almeida. Os textos originais foram Nestle, para o Novo Testamento e Letteris para o Velho Testamento.

As modificações feitas em Almeida se basearam, especialmente, nestes aspectos: infidelidade ao original, ou em desacordo com o melhor texto; palavra ou frase antiquada demais; palavra ou frase que apresentasse alguma impropriedade; construção gramatical inferior.

Nesta revisão, talvez tenha permanecido, no máximo, 30% da linguagem de Almeida, não sendo de admirar este corte se levarmos em consideração que a linguagem de Almeida, que estava sendo atualizada, tinha quase 200 anos.

O renomado vernaculista, Antônio de Campos Gonçalves, secretário e relator da Comissão nos científica de que a Sociedade Bíblica do Brasil desejou conservar o mais possível a linguagem de Almeida, mas este objetivo era difícil de ser alcançado, por ser muito antiga a sua linguagem e por serem diferentes os originais seguidos por Almeida (Textus Receptus) e pela Comissão Revisora (Letteris e Nestle).

Outros aspectos contestado por entendidos na arte de traduzir sobre a Almeida Atualizada são os termos eruditos e rebuscados, desconhecidos até por pessoas cultas. Preciosismos literários idênticos aos seguintes deveriam ser evitados: coudelaria (Et 8.10), excogitar (Sl 64.6), acrisolar (Sl 66.10), espelta (Is 28.25), sachar (Is 5.2), prevaricações (Ez 33.0), gazofiláceo (Mc 12.41), recalcitrar (At 2614), inculcando-se (Rm 1.22), adágio (2Pe 2.22). Não nos esqueçamos de que a linguagem é correta e o estilo agradável de se ler.

Como bem destacou o Dr. Bittencourt, no livro O Novo Testamento, páginas 244 e 245: "Nenhuma tradução é perfeita, nem quanto ao presente, nem futuro. E a última revisão de Almeida não poderia escapar a este destino.

A crítica aponta-lhe sérios lapsos de tradução, que seria cansativo enumerar. E, ao comentar o fato sobre o Antigo Testamento o ilustre professor de línguas da Universidade de São Paulo, disse que os Salmos, especialmente, poderiam ser bem melhorados, quer quanto à tradução propriamente dita, quer quanto à métrica.

Embora a espaços largos no correr do tempo, a semântica de alguns vocábulos varia. Novos vocábulos vão sendo criados e outros abandonados, tornando-se arcaicos.

E para que determinada tradução não envelheça, ela deve ser revista, não só quanto à língua, mas quanto à tradução propriamente dita, levando-se em conta as descobertas no campo da crítica textual que sempre trazem novo material para o aperfeiçoamento do texto sagrado nas línguas originais. E esta revisão, tão recente, já pede outros labores que a tornem bem melhor.

15.2.3 Tradução de Figueiredo

Por um decreto de 1757, no tempo do Papa Bento XIV, a Bíblia era reconhecida como útil para robustecer a fé. Esta nova atitude da Igreja Católica Romana deu impulso à tradução da Bíblia com a Vulgata como base. Entre estes se encontrava o Padre Antônio Pereira de Figueiredo, nascido perto de Lisboa em 1725. Por ser exímio latinista, e como ele mesmo confessa: "Não sendo eu nem ainda medianamente instruído nas línguas originais, hebraica e grega, em que foram escritos, respectivamente, o Velho Testamento e os Evangelhos, mal poderia sair exata e perfeita esta minha tradução."

A sua tradução se baseou na Vulgata. Por 18 anos ocupou-se deste trabalho, que foi submetido a duas revisões cuidadosas antes de ser publicado. A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778 em seis volumes e o Velho Testamento foi publicado em 17 volumes, seguidamente, desde 1783 a 1790.

A edição de sete volumes completada em 1819 é considerada o padrão das versões de Figueiredo. A tradução de Figueiredo em um só volume foi publicada pela primeira vez em 1821.

A principal objeção que se faz à Bíblia de Figueiredo é esta: apresenta deficiências que se verificam numa tradução de tradução.

Dr. Benedito P. Bittencourt apresentou ainda as seguintes falhas nesta tradução:

O uso de algumas palavras em Português demonstra como foi tendenciosa a tradução de Figueiredo. Em 1 Pedro 5.5 ele traduz: 'apoiando a honra dos padres'. Nas revisões feitas pelas sociedades Bíblicas esta tradução foi mudada para 'obedecei aos mais velhos' em harmonia com o original. Em João 11.57 ele traduz 'pontífice' em lugar de 'sumo-sacerdote', bem como na maioria dos lugares em que o termo aparece na carta aos Hebreus. A palavra padre, no sentido usado pela Igreja Romana, é usada, como no exemplo dado, para traduzir a palavra grega presbíteros em muitos lugares, o que não representa o sentido original. Figueiredo foi acusado de tradução perifrástica e livre. Em 2Co 4.8b ele traduz: 'Somos cercados de dificuldades insuperáveis e a nenhuma sucumbimos', que Almeida revista traduz: 'perplexos, porém não desanimados'. Não é somente tradução perifrástica, mas a segunda parte não guarda o significado original. Ele faz duas pequenas sentenças coordenadas em vez de adversativas. Não foi influência da Vulgata que ele tinha diante de si, pois esta traz: aporiamur, sed non destituimur, mas seu próprio modo de traduzir [...] Dezenas de exemplos se poderiam citar, mas estes poucos dão idéia de como Figueiredo fez sua tradução: melhor linguagem que a de Almeida, mas pior tradução." (O Novo Testamento. Cânon – Língua – Texto, p. 220).

A tradução de Figueiredo foi a primeira a verter a expressão "kuriakê hemera" de Ap 1.10 para domingo.

15.2.4 Edição Trinitária de 1883

Tão logo se fundou a Trinitarian Bible Society, em Londres, cuidou de verter o Livro Santo em vários idiomas, inclusive em português, que saiu a lume em 1883. Esta primeira edição da Trinitária é muito disputada pelos adventistas da fala portuguesa, ao ponto de se pagarem somas fabulosas por um exemplar, hoje raríssimo. E por quê? Porque ela registra assim Lc 23.43: 'E Jesus lhe disse: Na verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso'. E Ap 22.14: 'Bem-aventurados aqueles que guardam os seus Mandamentos, para que tenham acesso à árvore da vida, e para que entrem na cidade pelas portas'. E assim Jo 3.4: '... pecado é quebrantamento da Lei'. Estes três textos, assim traduzidos, casam-se maravilhosamente com certos aspectos da doutrina adventista. Também Is 42.21: '... engrandecerá Ele a Lei, e a fará ilustre'.

Entretanto, tirando esta aparente vantagem para os adventistas, a tradução, nos demais, do ponto de vista técnico e diante de novas descobertas da Crítica Textual, deixa muito a desejar, não é recomendável como um todo. A crítica especialmente aponta-lhe sérios deslizes tradutórios no Velho Testamento, principalmente em alguns Salmos. A parte do Novo Testamento baseou-se no texto Receptus de 1624, que não é bom, e foi superado pelo trabalho de Tischendorf e posteriormente por Westcott and Hort, pelos papiros de Beatty, e mais recentemente pelo famoso e atualíssimo texto de Ebberard Nestle. Ora, os textos gregos modernos estão escoimados de interpolações e inexatidão dos textos antigos, pois o trabalho da Crítica Textual consiste em restaurar, tanto quanto possível o texto original.

O português desta primeira edição da Trinitária é simplesmente horroroso, arcaicíssimo e deselegante. É freqüente o emprego de termos obsoletos e desusados, como, 'capros' (Lv 16.8), 'hum', 'humo' (em vários passos), 'olíbano' (Is 66.3), 'graça' (Sl 1.4)... e sobretudo a inadmissível grafia dos verbos no futuro ('virão', por exemplo).

Cacófatos dos piores encontram-se, por exemplo, em 2Sm 1.3; Gn 25.30; Ez 45.24; 46.11; Sl 102.6; Is 62.8; 2Co 11.33; Hb 11.27. E um verbo de sentido chulo em Lc 2.6 e 7. A Versão Trinitária em 1883 jamais é referida pelos eruditos, que a consideram destituída de valor crítico.
15.2.5 Trinitária Revisada

Circula em Portugal, há algum tempo, uma edição revista da Trinitária, com a linguagem melhorada e atualizada, de acordo com a reforma ortográfica oficializada pela Academia de Ciências de Lisboa. Mas não melhorou o conteúdo, e foram alteradas certas redações, inclusive de Lc 23.43, que agora está como as demais versões: "na verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso". E ainda conserva boa parte dos cacófatos, e incorreções tradutórias. Os próprios evangélicos brasileiros não a apreciam.

15.2.6 Traduções parciais da Bíblia no Brasil

Nazaré. Em 1847 publicou-se, em São Luís do Maranhão, O Novo Testamento traduzido por frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, que se baseou na Vulgata. Este foi, portanto, o primeiro texto bíblico traduzido no Brasil. Essa tradução tornou-se famosa por trazer em seu prefácio pesadas acusações contra as “Bíblias protestantes”, que, segundo os acusadores, estariam “falsificadas” e falavam “contra Jesus Cristo e contra tudo quanto há de bom”. Em 1879, a Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro publicou a que ficou conhecida como “A Primeira Edição Brasileira” do Novo Testamento de Almei¬da. Essa versão foi revista por José Manoel Garcia, lente (professor de escola superior ou secundária) do Colégio D. Pedro II; pelo pastor M. P. B. de Carvalhosa, de Campos, RJ, e pelo primeiro agente da Sociedade Bíblica Americana no Brasil, pastor Alexandre Blackford, ministro do Evangelho no Rio de Janeiro.

“Harpa de Israel” foi o título que o notável hebraísta F. R. dos Santos Saraiva deu à sua tradução do Livro dos Salmos, publicada em 1898.

Em 1909, o padre Santana publicou sua tradução do Evangelho de Mateus, vertida diretamente do grego. Três anos depois Basílio Teles publicou a tradução do Livro de Jó, com sangrias poéticas. Em 1917 foi a vez de J. L. Assunção publicar O Novo Testamento, tradução baseada na Vulgata Latina.

Traduzido do velho idioma etíope por Esteves Pereira, O Livro de Amós surgiu isoladamente no Brasil em 1917. Seis anos depois, J. Basílio Pereira publicou a tradução do Novo Testamento e do Livro dos Salmos, ambos baseados na Vulgata. Por essa época surgiu no Brasil (infelizmente, sem indicação de data) a Lei de Moisés (O Pentateuco), edição bilíngüe hebraico-português, preparada pelo rabino Meir Masiah Melamed.

O padre Huberto Rohden foi o primeiro católico a traduzir no Brasil o Novo Testamento diretamente do grego. Publicada pela instituição católico-romana Cruzada Boa Es¬perança, em 1930, essa tradução, por estar baseada em textos considerados inferiores, sofreu severas críticas.

15.2.6.1 Traduções completas

Em 1902, as sociedades bíblicas empenhadas na disse¬minação da Bíblia no Brasil patrocinaram nova tradução da Bíblia para o português, baseada em manuscritos melhores que os utilizados por Almeida. A comissão constituída para tal fim, composta de eruditos nas línguas originais e no vernáculo, entre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira, fez uso de ortografia correta e vocabulário erudito. Publicado em 1917, esse trabalho ficou conhecido como Tradução Brasilei¬ra. Apesar de ainda hoje apreciadíssima por grande número de leitores, essa Bíblia não conseguiu se firmar-se no gosto do grande público.

Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os católicos na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução possui notas entre parêntesis defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse motivo recebeu apoio papal em 1932.

Em 1943, as Sociedades Bíblicas Unidas encomenda¬ram a um grupo de hebraístas, helenistas e vernaculistas competentes uma revisão da tradução de Almeida. A comis¬são melhorou a linguagem, a grafia de nomes próprios e o estilo da Bíblia de Almeida.

Em 1948 organizou-se a Sociedade Bíblica do Brasil, destinada a “Dar a Bíblia à Pátria”. Esta entidade fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais aprofundada, que deu origem à Edição Revista e Atualizada no Brasil, e uma menos profunda, que conservou o antigo nome “Corrigida”.

Em 1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a sua Edição Revisada de Almeida, cotejada com os textos em hebraico e grego. Essa edição foi posterior¬mente reeditada com ligeiras modificações.

Mais recentemente, a Sociedade Bíblica do Brasil tra¬duziu e publicou a Bíblia na Linguagem de Hoje (1988). O propósito básico desta tradução tem sido o de apresentar o texto bíblico numa linguagem comum e corrente.

Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição Con¬temporânea da Bíblia traduzida por Almeida. Essa edição eliminou arcaísmos e ambigüidades do texto quase tricente¬nário de Almeida, e preservou, sempre que possível, as exce¬lências do texto que lhe serviu de base.

Enquanto a edição da Bíblia Thompson estava sendo preparada, uma comissão constituída de eruditos em grego, hebraico, aramaico e português, coordenada pelo São. Luiz Sayão, trabalhava em uma nova tradução das Escrituras para a língua portuguesa, sob o patrocínio da Sociedade Bíblica Internacional.

São, também, dignas de referência: A Bíblia traduzida pelos monges de Meredsous (1959); A Bíblia de Jerusalém, traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém (padres dominica¬nos), e editada no Brasil por Edições Paulinas em 1981, com notas, e a Edição Integral da Bíblia, trabalho de diversos tradu¬tores sob a coordenação de Ludovico Garmus, editado por Editora Vozes e pelo Círculo do Livro, também com notas.

16- ERROS NO TEXTO – CRITICA TEXTUAL E CRITICA RECEPTUS


16.1 Causas dos Erros na Transmissão do Texto Bíblico

Antes da invenção da imprensa, no século XV, a transmissão de qualquer escrito, apenas poderia ser feita copiando, pacientemente, à mão, palavra por palavra. Podemos imaginar quantas probabilidades de erro tal método comporta. Experimente-se pedir a 20 pessoas que copiem determinado trecho, copiando sucessivamente, cada uma da outra cópia, no final ficaremos estupefatos diante do resultado obtido. Nos manuscritos tiravam-se cópias e apesar do estrito cuidado, as variantes logo apareciam.

16.1.1 Erros Involuntários

16.1.1.1 Erros provenientes de uma visão deficiente

O escriba atingido por astigmatismo, achava difícil distinguir as letras gregas que se pareciam, especialmente se o copista anterior não escreveu com cuidado. Assim num manuscrito uncial, onde o sigma era feito como sigma lunar, era fácil confundi-lo com o épsilon, o teta e o ómicron C E Y O. Se dois lâmbdas fossem escritos muito juntos poderiam ser tomados pela letra Mi, como aconteceu em Romanos 6.5, em muitos manuscritos está A L L A (mas), noutros está AMA (juntos). Há divergência em alguns manuscritos com a parte final de 1Co 12.13. A maioria traz: "E a todos nós foi dado beber de um só Espírito"; contudo em alguns aparece: "E a todos nós foi dado beber de uma bebida". Esta variante surgiu quando alguns copistas leram erradamente IMA (a contração comum da palavra INEYMA – espírito, como IIOMA (bebida).

16.1.1.2 Erros provenientes de igual terminação

Tecnicamente, este erro chama-se homoioteleuton = final igual de duas linhas. Pelo fato de duas linhas seguidas terminarem com a mesma palavra ou sílabas, os olhos do copista podiam pular da primeira para a segunda, omitindo acidentalmente várias palavras. Assim é explicada a curiosa tradução de João 17.15 no Códice Vaticano, onde não aparecem as palavras aqui colocadas entre parênteses: "Não peço que os tires do (mundo mas que os livres do) mal". Algumas vezes, os olhos do escriba, apanhavam a mesma palavra ou grupo de palavras uma segunda vez e como resultado copiava duas vezes, o que deveria ter feito apenas uma. Em Atos 19.34 a expressão: Grande é a Diana dos efésios, aparece duas vezes do Códice Vaticano. Chama-se ditografia a repetição daquilo que ocorre apenas uma vez e haplografia a falta da repetição de uma letra ou palavra.

16.1.1.3 Erros provenientes de audição deficiente

Era comum ditarem ao copista e ele escrever uma outra palavra parecida, como as nossas imersão e emersão, despercebido e desapercebido, comprimento e cumprimento. Outro problema com o ditado encontrava-se nas homônimas não homógrafas, como ilustram as palavras portuguesas: sinto e cinto, incipiente e insipiente, cocho e coxo. A confusão entre épsilon e eta, ômega e ómicron era muito comum em ditados. Um problema desta natureza está em Romanos 5.1, onde a variante tenhamos se alterna com temos, em grego ecwnen e econen. Dr. Benedito de Paula Bittencourt, em seu trabalho pioneiro de Crítica Textual em Língua Portuguesa fez a análise crítica deste versículo e a quem pedimos vênia para citar algumas de suas conclusões.

Crítica externa – Quantitativamente e qualitativamente as evidências externas parecem favorecer o subjuntivo. No entanto, descoberta recente, a do fragmento do MS 0220, vem suprir o que falta a P. 46, que começa em 5.17. Este manuscrito, cuja leitura é dificultada pelo estado em que se encontra, parece indicar que o verbo está escrito com ómicron e não com ômega, sendo, no caso, um indicativo e não subjuntivo, como indicam os escribas primários do Sinaítico e Vaticano. Crítica interna – Se a Teologia de Romanos e dos escritos paulinos como um todo for examinada, poderá o crítico chegar a uma conclusão final, na qual os elementos já compulsados das evidências externas darão sua colaboração conclusiva. O indicativo dá idéia de algo ativo no presente, enquanto o subjuntivo é modo exortativo e que traz em si a idéia de ação volitiva no tempo futuro. Há no subjuntivo também a idéia de ordem, imperativa. O subjuntivo coloca o Apóstolo exortando o homem justificado pela fé em Cristo a alcançar por seus esforços sua paz com Deus. Mas, isto é contra o pensamento paulino. Para Paulo não há necessidade de esforços humanos para alcançar paz com Deus, pois o homem é incapaz de realizar sua própria salvação e mesmo manter sua paz. Cristo, e somente Cristo, é seu Salvador e só Ele é capaz de reconciliar o homem com seu Deus e lhe dar paz. Esta é a idéia do indicativo (O Novo Testamento, p. 199-200).

No grego Coinê os ditongos oi, ui, e as simples vogais h, i, u não apresentavam diferença de pronúncia soando todos como o nosso "i" resultando daí trocas entre hmeiv = nós e umeiv = vós; eieroiv = outros e eiairoiv = companheiros (Mt 11.16). Em Hebreus 4.11 o escriba do Códice Claromontano escreveu aletheias = verdade, por apeitheias (desobediência) com resultados desastrosos para o sentido. A declaração de Paulo de 1Co 15.54: "tragada foi a morte na vitória (nicós em Grego)" está no papiro 46 e Códice B: "tragada foi a morte no conflito (neicós)".

16.1.1.4 Erros de Memória

Estes erros surgiram porque a memória falhava enquanto o copista olhava para o manuscrito e procurava escrever o que lá se encontrava. Este tipo de erro explica a origem de um grande número de mudanças, especialmente nos evangelhos sinóticos, envolvendo a substituição de sinônimos, variação na ordem das palavras, troca de palavras por influência de outra passagem paralela, talvez conhecida do escriba. A substituição de sinônimos aparece em exemplos como: eipen por efe, ec por apó, etc. Um exemplo de troca de palavras temos em Mt 19.16-17, onde alguns copistas alteraram o relato para que este concordasse com Mc 10.17 e Lc 18.18. À declaração de Cl 1.14 copistas acrescentaram em alguns manuscritos, "através do seu sangue", por influência da passagem paralela de Ef 1.7.

16.1.1.5 Erros de Julgamento

Encontramos alguns erros que apenas podem ser explicados por culpa de copistas pouco inteligentes ou descuidados. Palavras ou notas explicativas, encontradas na margem, eram muitas vezes, incorporadas ao texto do Novo Testamento. Ao copista encontrar na margem, notas explicativas como sinônimos de palavras difíceis, correções, comentários pessoais, ficava perplexo sem saber o que fazer com elas. Alguns resolveram o problema da seguinte maneira – colocaram a nota no texto que estavam copiando. Há manuscritos que trazem acrescentadas a Rm 8.1 as seguintes palavras: "que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito". Esta era uma nota explicativa na margem do primeiro versículo, talvez tirada do verso quatro.

Somente descuido em alto grau pode justificar alguns absurdos perpetrados por escribas pouco perspicazes. Talvez um dos piores desatinos cometidos por um escriba se encontra no manuscrito 109 do século XIV. Este manuscrito, dos quatro evangelhos, agora no Museu Britânico, foi transcrito de uma cópia que deve ter tido a genealogia de Jesus era duas colunas de 28 linhas cada uma. Em vez de transcrever o texto seguindo as colunas em sucessão, o escriba do 109 copiou a genealogia seguindo as linhas através das duas colunas, surgindo como era de se esperar um resultado desastroso. Quase todos os filhos estão com os pais trocados; Deus é dado como filho de Adão e Fares é a fonte de toda a raça e não Deus.

16.1.2 Erros Intencionais

Por estranho que pareça, os escribas que pensavam, eram mais perigosos do que aqueles que se limitavam a copiar o que tinham diante de si. Muitas das alterações, que podem ser classificadas como intencionais foram, sem dúvida, introduzidas de boa fé por copistas que criam estar corrigindo erros ou infelicidades de linguagem, que se haviam introduzido no texto sagrado e precisavam ser retificados. A despeito da vigilância de eclesiásticos zelosos, alguns escribas, chocados com erros reais ou imaginários, de ortografia, gramática e fatos históricos, deliberadamente, introduziram mudanças no que estavam copiando.

16.1.2.1 Correções na Ortografia, Gramática e Estilo

O livro de Apocalipse, com seus freqüentes semitismos e solecismos, apresentava muitas tentações aos escribas ciosos da correção gramatical.

Para melhorar a sintaxe do nominativo depois da proposição apó (Ap 1.4), eles inseriram tou, Qeou ou Kurivon. O escriba culto era tentado a melhorar a linguagem.

16.1.2.2 Correções Harmonizadoras

Intencionalmente ou não, procurando harmonizar passagens paralelas ou relatos idênticos, os copistas alteravam algumas passagens bíblicas.

Os exemplos são muitos, mas aqui serão apresentados somente dois: Em João 19.20 encontra-se a expressão – Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus, estava escrito em hebraico, latim e grego. Em muitos manuscritos, os copistas acrescentaram no texto de Lucas 23.38, isto foi escrito em hebraico, latim e grego; a forma mais curta da Oração do Senhor em Lc 11.2-4 foi alterada, em muitas cópias, para concordar com a forma mais familiar e mais longa encontrada em Mateus 6.9-13.

16.1.2.3 Acréscimo de Complementos Naturais e Semelhantes
A obra dos copistas na amplificação e arremate das frases é evidente em muitas passagens.

Vários escribas, supondo que algo estava faltando na declaração de Mt 9:13 "Pois não vim chamar os justos, mas os pecadores", acrescentavam "ao arrependimento". Outros copistas achavam difícil deixar a palavra escriba, sem acrescentar fariseu, como aconteceu em Mt 27.41. Em Cl 1.23 há um interessante exemplo ilustrando como os copistas não resistiram à tentação de realçar a dignidade do Apóstolo Paulo. Neste verso Paulo diz que ele se tornou ministro do Evangelho, em grego está "diácono". Sendo que a palavra grega "diácono" significa, literalmente, aquele que serve, ministro, passou a designar uma ordem inferior do ministério, isto é, aqueles que executam trabalhos mais simples na Igreja; os copistas dos manuscritos alefe a e P mudaram diáconos para querix e apóstolos, por acharem que estes títulos eram mais apropriados ao grande Apóstolo dos Gentios. O manuscrito A traz os três títulos para Paulo – arauto, apóstolo e ministro.

16.1.2.4 Esclarecimento de Dificuldades Históricas e Geográficas

A citação de Mc 1.2 é introduzida pela fórmula "Como está escrito no profeta Isaías". Acontece que a citação é proveniente dos profetas Isaías e Malaquias: Isaías 40.3 e Malaquias 3.1. Alguns escribas sentindo esta dificuldade substituíram a expressão "no profeta Isaías" por "nos profetas". Sendo que Mateus 27.9 atribui ao profeta Jeremias o que na realidade veio de Zacarias 11.12; não é de admirar que alguns copistas procurassem corrigir o erro, substituindo o nome, ou omitindo-o. Alguns copistas, tentaram harmonizar o relato da cronologia da paixão com a de Marcos, pela mudança da "hora sexta" de João 19.14 para "terceira hora", que aparece em Marcos 15.25. Porque a declaração de Marcos 8.31 - "depois de três dias ressuscitará", parece envolver um problema cronológico, alguns copistas a alteraram para "ao terceiro dia".

16.1.2.5 Duplicidade de Textos

O que faria um escriba consciencioso quando descobria que a mesma passagem fora dada diferentemente em dois ou mais manuscritos que tinha diante de si? Em vez de fazer uma escolha entre as duas variantes (com a probabilidade de omitir a genuína) muitos incorporaram as duas na mesma cópia que estavam transcrevendo. Isto produziu a chamada duplicidade de textos ou de leituras, característica predominante da família bizantina. Os dois exemplos seguintes confirmam este fato: A declaração de Lucas de que os discípulos estavam continuamente no templo bendizendo a Deus, aparece em alguns manuscritos, "estavam continuamente no templo orando a Deus". Não poucos copistas concluíram que era mais seguro transcrever as duas declarações, aparecendo assim: "estavam continuamente no templo orando e bendizendo a Deus". Atos 20.28 aparece em alguns manuscritos como: "Igreja de Deus", e em outros: "Igreja do Senhor". Vários manuscritos posteriores trazem "Igreja do Senhor e Deus".


16.1.2.6 Alterações Feitas por Questões Doutrinárias

Estas alterações são difíceis de serem avaliadas.

Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Eusébio e muitos outros Pais da Igreja acusaram os heréticos de corromperem as Escrituras para apoiarem suas opiniões pessoais. Por exemplo, Márcion tirou do Evangelho de Lucas todas as referências judaicas relacionadas com Jesus. A Harmonia dos Evangelhos de Taciano traz várias alterações textuais para apoiar suas opiniões ascéticas. Os manuscritos do Novo Testamento preservam traços de duas espécies de alterações dogmáticas: as que envolvem eliminação ou alteração do que era considerado doutrinariamente inaceitável ou inconveniente e as que introduziram dentro das Escrituras "provas" para uma prática ou um dogma teológico. Os exemplos são muitos, como podem ser vistos em The Text of the New Testament, página 202 e 203, mas destes apenas um será transcrito: Escribas que não podiam harmonizar a declaração de Jesus de Mt 24.36 e Mc 13.32 "que Ele não sabia o dia da sua vinda", com a sua divindade, omitiam a expressão: "nem o Filho".

16.1.2.7 Acréscimo de Pormenores:

Acréscimos feitos na margem ou em notas no rodapé, uma vez ou outra eram introduzidos para o texto. Sempre houve e ainda há grande curiosidade em saber o nome de alguns personagens que aparecem anonimamente no texto bíblico. Como a tradição dava nomes a estas pessoas, copistas eram tentados a colocá-los no texto que estavam copiando. Velhos Manuscritos latinos apresentam os seguintes nomes para os dois ladrões crucificados com Cristo: Zoatan, Camma, Magatras. Entre nós é comum ouvirmos que o nome do bom ladrão era Dimas. O nome do homem rico de Lucas 16.19 aparece na versão saídica como Níneve ou Ninivita, nome comum para ricos dissolutos naquele tempo. Uma adição apócrifa num antigo manuscrito latino declara que quando Jesus foi batizado uma tremenda luz brilhou da água atemorizando a todos os que estavam presentes. Os títulos dos livros apresentam curiosidades dos amanuenses. O mais original neste aspecto é o título que o copista do manuscrito 1775 deu ao Apocalipse: "Apocalipse do todo glorioso evangelista, amigo do peito de (Jesus), virgem, amado de Cristo, João – o teólogo, filho de Salomé e Zebedeu, mas filho adotivo de Maria, a mãe de Deus, e filho do trovão".

Conclusões

Todos os estudiosos dos problemas dos copistas estão bem cientes de que o estudo comparativo de vários textos é de grande ajuda para a eliminação destes erros. Estes erros têm sido denominados de periféricos, porque não abrangem a essência dos ensinamentos divinos. Quem sabe pessoas iniciantes ou despreparadas em "Crítica Textual" pensem da seguinte maneira: este estudo não deveria ser apresentado, porque pode levar pessoas a descrerem da Palavra de Deus e a concluírem que os escribas eram descuidados, caprichosos e tendenciosos. Verdades e realidades não podem e não devem ser escondidas.

Todos devem ter em mente esta verdade fundamental: o que foi apresentado neste capítulo aconteceu com alguns manuscritos e com poucos copistas, o que vem mostrar a fragilidade da natureza humana. Existem muitas evidências mostrando o trabalho dedicado, cuidadoso, honesto e fidelíssimo da maioria dos copistas, bem como abundante messe de manuscritos não alterados, que nos levam a crer firmemente na fidelidade da transmissão das Santas Escrituras. A Crítica Textual não abate os fundamentos da nossa crença, antes os solidifica.

16.2 A Crítica Textual e a Bíblia

A palavra crítica origina-se do verbo grego "krino" que significa julgar. A crítica textual tem como primeiro objetivo conhecer a exatidão de um texto. Muitos dignos cristãos, bem intencionados, mas mal esclarecidos têm protestado energicamente contra qualquer aplicação da crítica textual à Bíblia. Para eles é simplesmente absurda a idéia de aplicar a crítica em relação à Bíblia. Perguntam eles: Como submeter a Palavra de Deus, obra do Espírito Santo, aos critérios humanos? Esta simples frase resolveria todos os problemas: O texto original (ou melhor o autógrafo) da Bíblia é totalmente isento de erros, mas não as cópias feitas por copistas susceptíveis às falhas humanas. Até à invenção da imprensa, no século XV, os manuscritos eram produzidos por copistas, que freqüentemente cometiam erros de transcrição. Quando sabemos que os manuscritos eram recopiados uns dos outros, sem ser possível a conferência com o texto original é fácil concluir, que os erros tendiam a multiplicar-se nas cópias posteriores.

A finalidade essencial da crítica textual é restabelecer em toda a sua pureza o texto como saiu das mãos do autor, escoimando-o de erros dos copistas, tais como adições indevidas, notas marginais que foram inseridas no texto ou correções tendenciosas visando atenuar, ou torcer o sentido de uma frase, modificar o estilo, transformar o pensamento de um escritor. Os que atacam a crítica textual demonstram o seu despreparo nesta ciência. Para que o trabalho da crítica textual seja efetivo é necessário em primeiro lugar possuir razoável conhecimento das línguas bíblicas; seguindo-se um inventário tão completo quanto possível dos manuscritos, como a sua classificação em famílias; a judiciosa aplicação dos métodos da crítica textual, até chegar às causas primordiais dos erros na transmissão do texto bíblico.
Entende-se por crítica textual toda pesquisa científica em busca da verdadeira forma de um documento escrito no original, ou, pelo menos, no texto mais próximo do original. No que diz respeito aos autores dos últimos quatro séculos, depois da genial invenção de Gutenberg, podemos estar certos de possuirmos suas obras exatamente como foram escritas, salvo raras exceções, particularmente quanto a erros tipográficos de menor importância. Já não se pode dizer o mesmo a respeito das obras que circularam em manuscrito, antes da invenção da imprensa. Não é de admirar que os escritos copiados múltiplas vezes, umas cuidadosamente, mas outras sem maiores cuidados, e isto durante séculos, sofressem múltiplas e variadas alterações. Isto constitui, nos diferentes documentos conhecidos da mesma obra, o que se chama de variantes ou textos divergentes. E a crítica textual, particularmente a do Novo Testamento, tem por objetivo a escolha do texto, entre todos os encontrados nos vários manuscritos, que possua a maior soma de probabilidades de ser o original ou a forma primitiva do autógrafo, já que não possuímos nenhum dos autógrafos do Novo Testamento, mas apenas cópias e algumas delas distantes mais de dois séculos do original. Esta busca científica dos originais ou dos textos que lhes sejam mais próximos é de extrema dificuldade, cheia de problemas de vasta complexidade. A regra geral nos leva a concluir que, quanto mais distante dos autógrafos, tanto quanto ao tempo como quanto ao número de cópias, maior a corrupção do texto, maior a soma de erros. No entanto, esta regra não é absoluta. Há obras, e o Novo Testamento é deste tipo, onde a matéria em si leva o copista a correções intencionais, e a corrupção, neste caso, não estaria em função da distância que separa a cópia de seu original, nem quanto ao número de cópias, nem mesmo quanto ao tempo, mas em função direta e inequívoca a matéria a ser copiada. Entretanto, o maior número de cópias torna os labores do crítico mais suaves, pois o pequeno número de manuscritos conduz à probabilidade de perda, nalguns lugares, da verdade original, que só pode ser alcançada mediante conjetura, processo deveras precário. Dr. Benedito P. Bittencourt, já várias vezes citado, inquestionavelmente, uma das maiores autoridades em crítica textual no Brasil, assim escreveu no capítulo “A Tarefa da Crítica Textual”.

O Novo Testamento leva, quanto ao tempo que separa os mais antigos manuscritos de seus originais, grande vantagem sobre os clássicos. Possui o Novo Testamento cópias completas dentro do quarto século. Há partes, como as do Papiro Chester Beatty, por exemplo, que se situam na primeira metade do século terceiro e até mesmo no último quartel do segundo, como o caso do Papiro de Bodmer. Há mesmo um fragmento bem perto de seu autógrafo: é o fragmento de papiro P52, situado na primeira metade do século segundo, e mesmo no seu primeiro quartel por alguns paleógrafos, distando, assim, menos de cinqüenta anos de seu original, se colocarmos o Evangelho de João, que P52 representa, na última década do primeiro século. A tarefa do crítico é reagir contra os erros dos copistas. Ninguém deve recear a tarefa, nem mesmo menosprezá-la, quando se pode afirmar, com os entendidos do assunto, que não só os grandes manuscritos, mas também os mais antigos papiros, atestam a integridade geral do texto sagrado. E, todavia, a insofismável autoridade da Lagrange diz que entre esta pureza substancial e um texto absolutamente igual aos originais há distância apreciável. Se nos lembrarmos de que os manuscritos e citações diferem entre si entre 150.000 e 250.000 vezes e que um estudo só do Evangelho de Lucas revelou mais de 30.000 passagens diferentes e que, como afirma a autoridade de M. M. Parvis, "não há uma só sentença do Novo Testamento na qual a tradição seja uniforme", sentiremos a grandeza e a responsabilidade da tarefa. Há uma afirmação do mesmo prof. Parvis, da Universidade de Chicago, que surge aos olhos do leigo como um choque' tremendo e que só pode ser avaliada pelos estudiosos da matéria, que o presente Autor não pode deixar de transcrever: "Até que esta tarefa esteja completa, a incerteza a respeito do texto do Novo Testamento permanece". Note-se, todavia, que a elevada cifra de variantes, em sua maioria esmagadora, diz respeito a questões que não afetam o sentido profundo do texto e que o número de variantes que se revestem de importância, especialmente no que diz respeito à doutrina, é assaz reduzido. A tarefa da crítica textual do Novo Testamento é, diz Kenyon, "o mais importante ramo da ciência". Ela trata com um livro cuja importância é imensurável e vital, mais importante que qualquer outro livro do mundo, pois o Novo Testamento é único, nem mesmo comparação pode sofrer. É tarefa básica, pois dela dependem as outras ciências bíblicas. A crítica textual lança os fundamentos sobre o qual a estrutura da investigação espiritual deve ser construída. Sem um bom texto grego, tão mais próximo dos autógrafos quanto lhe permitam os labores da crítica textual, não é possível fazer segura exegese, hermenêutica, crítica histórica ou literária, nem mesmo teologia, para não falarmos em tradução. Embora seja chamada de baixa critica e bem modestos os seus esforços, é fundamental e indispensável ao estudante do Novo Testamento, desde o tradutor até o teólogo. O crítico textual tem por função, primeiro, a coleta do material documentário, que encontra no exame de vários manuscritos, versões e noutro elemento muito precioso, ainda não mencionado, as citações dos chamados Padres Apostólicos. Depois se entregará ao exame crítico desse material, pela estima de seu vaiar. Para que ele possa realizar bem sua primeira função é necessário que esteja familiarizado com o material, terreno onde realiza suas investigações. Deve conhecer não só os vários manuscritos, versões e citações dos antigos escritores da Igreja Cristã, como também o modo pelo qual foram produzidos, os usos da escrita literária e não literária do tempo, o material usado, o destino e o objetivo final dessa mesma produção [...] Para que possa realizar a segunda parte, mais profunda, mais difícil e que requer mente bem educada e de grande acuidade intelectual, deve conhecer a própria história do texto, os métodos da crítica textual, teologia do autor cujo livro se examina, a história das doutrinas, a língua original, particularmente sua gramática, e um conhecimento cultural da época do autor e dos escritos cujas cópias considera. Por estas ligeiras indicações o leitor pode ver, não só a extensão, mas as implicações desta ciência. Isto para não falarmos em paleografia, arqueologia, conhecimento dos clássicos, como quer a escola alemã, pois se pressupõe este trabalho já realizado pelos respectivos especialistas e colocado ao alcance do crítico textual através da caracterização dos vários documentos (O Novo Testamento, Cânon – Língua – Texto, pp. 71-75).

16.3 O Textus Receptus - Seus Defensores e Opositores

Recebe o nome de "Textus Receptus" o texto grego que dominou, no campo do estudo do Novo Testamento por mais de 300 anos. Este texto é também conhecido pelos nomes de Texto Recebido ou Texto Grego Vulgarizado.

No início do século XVI dois grandes eruditos – o Cardeal Ximenes e Erasmo – lançaram-se à ingente tarefa de publicar o Novo Testamento em grego, procurando unificar os vários textos gregos existentes.

Para a boa compreensão da história do "Textus Receptus" é preciso partir do famoso editor francês Roberto Estéfano (1503-1559), que publicou quatro edições do texto grego. Sua terceira edição (1549) é o primeiro texto onde aparece um aparato crítico. Foi esta edição que se tornou o modelo para a King James Version de 1611 e até o século XIX foi o paradigma de todos os textos gregos publicados. A sua quarta edição (1551) não pode ser olvidada na história do texto bíblico, porque pela primeira vez aparece a divisão em versos numerados. Embora a expressão "Textus Receptus" se refira à terceira edição de Estéfano, esta não foi usada por ele.

Outro nome intimamente ligado com o "Textus Receptus" é o de Teodoro Beza (1519-1605), que entre 1565 e 1604 publicou nove textos bíblicos. O texto de Beza pouco difere da quarta edição de Estéfano. A importância do seu trabalho consiste no seguinte: suas edições visavam popularizar o "Textus Receptus". Os tradutores de King James fizeram largo uso das edições de Beza. Em 1624, os irmãos Elzevirs, impressores alemães, lançaram uma edição do Novo Testamento Grego, em cujo texto predominava o de Estéfano, mas havia também um pouco do texto de Beza. No prefácio da segunda edição se encontravam as seguintes palavras: "No texto que é agora recebido por todos, não apresentamos nada mudado ou alterado." A expressão "Textus Receptus" nasceu desta mesma frase em latim: "Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus." Os autores desta simples frase jamais sonhariam que ela fosse o início de uma grande contenda na história do texto bíblico.


16.3.1 Edições Posteriores ao "Textus Receptus" – Edições Críticas

O próximo estágio na história da Crítica Textual do Novo Testamento é caracterizado por assíduos esforços para reunir manuscritos gregos, versões e citações patrísticas, que diferissem do "Textus Receptus". Por quase dois séculos, eruditos rebuscaram as bibliotecas e museus da Europa e Oriente Médio, procurando provas para o texto do Novo Testamento. Durante este período, estudiosos publicaram Novos Testamentos baseados em melhores manuscritos, Brian Walton, que publicou a grande Bíblia Poliglota (1657) baseada no exame de 16 manuscritos. John Mill, também de Oxford, trabalhou 30 anos no preparo de sua edição de 1707, baseando-se em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Bentley, empregando em vários lugares pessoas capazes para confrontarem manuscritos e versões, reuniu material para uma definitiva edição que suplantasse o "Textus Receptus", mas, infelizmente, por questões alheias à sua vontade, não chegou a completar sua edição do Novo Testamento.

Entre os colaboradores de Bentley estava J. J. Wettstein de Basiléia, que após quarenta anos de pesquisas publicou em Amsterdam (1751) uma edição do Novo Testamento. Sua obra tem grande valor até hoje, não apenas pelas notas marginais e os seus prolegômenos (prefácio longo a uma obra científica), mas também pelo aparato crítico, onde pela primeira vez os manuscritos unciais são indicados pelas letras maiúsculas e os manuscritos minúsculos pelos números arábicos. Pertencem ainda a esta fase Semler (1725-1791) e Bengel (1687-1752), que individualmente publicaram uma edição do Novo Testamento Grego. Estes Novos Testamentos estavam baseados em manuscritos diferentes daqueles que foram usados para o "Textus Receptus". Contudo eles divergiram daquele texto e os apresentados por eles poucas variantes apresentavam relacionadas com o texto consagrado.

16.3.2 Declínio do "Textus Receptus"

O primeiro erudito a se opor frontalmente ao "Textus Receptus" foi o alemão Karl Lachmann (1793-1851). Seu objetivo ao editar o Novo Testamento não era reproduzir o texto original, pois ele cria ser isso uma tarefa impossível, mas procurar reconstruir o texto corrente no fim do IV século. Para isso usou manuscritos unciais primitivos, versões latinas, a Vulgata de São Jerônimo e o testemunho de alguns Pais da Igreja. Após cinco anos de trabalho, publicou em Berlim (1831) uma edição do texto grego, com uma lista de passagens nas quais diferia do texto dos irmãos Elzevirs. Por esta divergência foi duramente atacado. No prefácio de sua segunda edição Lachmann atacou seus críticos por preferirem, cegamente, um texto familiar, mas inferior, a um primitivo muito mais exato. Seu valor está em chamar a atenção dos estudiosos para a conveniência de aceitarem um texto superior e não se contentarem com aquele, tradicionalmente conhecido e aceito por todos.

16.3.3 Constantino Tischendorf

Ninguém conseguiu fazer mais pelo texto bíblico do que este autor. Quando estudava teologia, seu professor de grego, Winer (autor de uma famosa gramática) despertou nele um desejo profundo para pesquisar manuscritos antigos, a fim de reconstruir a mais perfeita forma do Novo Testamento Grego. Com este objetivo em mente, dedicou-se de corpo e alma a esta sublime tarefa, pois escrevendo à sua noiva ele declarou: "Resolvi dedicar-me a uma tarefa sagrada – a luta para conseguir a forma original do Novo Testamento”. Sem receio de contestação pode-se afirmar que ninguém fez mais do que Tischendorf para restaurar o texto original grego. Basta ter em mente que foi a pessoa que publicou mais manuscritos e produziu mais edições críticas da Bíblia Grega.

Entre 1941 e 1842 ele preparou oito edições do Novo Testamento Grego. A edição mais importante é a oitava, publicada em dois volumes, acompanhada por um rico Aparato Crítico, no qual Tischendorf reunia tudo sobre variantes textuais que ele ou seus predecessores tinham achado em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Em virtude do grande esforço despendido, seu estado de saúde não lhe permitiu continuar o trabalho, por isso sua obra foi completada por seu discípulo – Gaspar Renê Gregory. O texto de sua oitava edição, de acordo com Nestle difere da sétima em 3.572 lugares. Foi acusado de dar excessivo valor à evidência do Códice Sinaítico, que ele tinha descoberto entre o lançamento da sétima e da oitava edição. Tischendorf deixou de lado o "Textus Receptus", não levando também em conta a classificação dos manuscritos em famílias.

16.3.4 Samuel Tregelles

Na Inglaterra, o intelectual mais bem sucedido em afastar-se do "Textus Receptus" foi Samuel Tregelles. Desde menino, demonstrando grande talento e curiosidade intelectual, já fazia planos para uma nova edição crítica do Novo Testamento. No intervalo de 1857 e 1872 publicou um texto grego equipado com o mais completo aparato de variantes das versões que já aparecera. Dotado de extraordinária força de vontade, Tregelles conseguiu vencer a pobreza, a oposição e a saúde precária, apresentando notável trabalho no terreno da Crítica Textual. Sua dedicação ao trabalho era um ato de adoração, pois no prefácio de sua obra declarou "na crença total de que esta deve ser para o serviço de Deus e para ser útil à Sua Igreja”.


16.3.5 Westcott e Hort

Estes dois intelectuais ingleses, após um dedicado trabalho de 28 anos publicaram dois volumes: O Novo Testamento no Original Grego com Introdução e Apêndice, onde os princípios críticos seguidos por ele são minuciosamente expostos. Depois de exaustivas pesquisas na procura de manuscritos antigos, os estudiosos desejaram classificá-los em grupos, assim várias tentativas foram feitas, mas quase todas infrutíferas quanto aos seus resultados. Coube a B. F. Westcott e F. J. A. Hort, dois renomados professores da Universidade de Cambridge, a classificação dos manuscritos do Novo Testamento em quatro famílias, por eles denominadas: Siríaca, Ocidental, Alexandrina e Neutra.

Para eles a mais importante destas famílias era a neutra, por estar mais próxima dos autógrafos e por contar com os dois mais famosos códices unciais – Sinaítico e Vaticano. A preferência de Westcott e Hort por esta família é partilhada por insignes vultos da Crítica Textual, mas, estudos posteriores têm indicado que eles foram otimistas demais quanto à pureza do texto neutro. Pode-se notar ainda que o texto Alexandrino não é distinto do texto neutro, por isso, hoje, aparece como Alexandrino.

16.3.6 A Defesa do "Textus Receptus"

Os defensores deste discutido texto tornaram-se tão fanáticos, que não admitiam que ele fosse alterado ou melhorado. Aqueles que ousaram divergir foram tachados de irreverentes e sacrílegos. Sendo que Westcott e Hort rejeitaram totalmente o texto tradicional, suas idéias não foram bem aceitas pelos conservadores. Em breve, intelectuais se levantaram como denodados paladinos do texto aceito por todos durante 300 anos. Dentre esses defensores destacam-se Scrivener, Edward Miller e John Burgon. O argumento principal destes estudiosos em defesa do "Textus Receptus" era este: "Se as palavras da Escritura tinham sido ditadas pela inspiração do Espírito Santo, Deus não teria permitido que elas fossem corrompidas no decurso de sua transmissão." Os argumentos apresentados em defesa do "texto recebido" não tiveram a ressonância que eles esperavam e após a morte deles esta polêmica foi para sempre encerrada.

16.4 Edições Gregas após Westcott e Hort

16.4.1 Herman Von Soden: (1852-1913)
Graças ao apoio financeiro da Sra. Elise Koenigs, Von Soden, professor em Berlim, pôde enviar muitos estudantes que tinham sido treinados por ele para examinarem manuscritos nas bibliotecas e museus da Europa e do Oriente Médio. Ele identificou três grupos de manuscritos, designando-os pelas letras gregas K, H, I. Estas letras são inicias das seguintes palavras: K de koinê – comum, H de Hesíquio e I de Siríaco de W. H.; O H incluiria o Neutro e o Alexandrino de W. H., enquanto o I eqüivaleria ao Ocidental dos dois professores da Universidade da Universidade de Cambridge. Discordando da classificação dos manuscritos em unciais e minúsculos e do agrupamento em famílias de W. H., idealizou nova classificação que indicasse a idade, conteúdo e tipo de cada manuscrito. Por ser um trabalho complexo, difícil de ser aceito na prática, redundou num grande desapontamento para a Crítica Textual, por isso foi totalmente posto de lado. Como resultado de suas pesquisas e de seus muitos auxiliares, Von Soden publicou a História do Texto Bíblico em 2.203 páginas de seus prolegômenos. Este trabalho, resultado de prolongada investigação e intensivo estudo, tem sido descrito como um magnífico fracasso.

16.4.2 Bernard Weiss (1827-1918)

Enquanto professor de Exegese Grega, em Berlim, editou o Novo Testamento em três volumes. Sendo um profundo exegeta tratou com eficiência de problemas teológicos e literários do texto do Novo Testamento. Seu trabalho se caracteriza pela valorização das evidências internas, discordando assim de Westcott e Hort, que se apoiavam em evidências externas, concordando, porém, com eles em classificar o manuscrito Vaticano como o melhor. Weiss discorda também dos defensores da teoria genealógica na classificação dos manuscritos bíblicos.

16.4.3 Eberhard Nestle (1851-1913)

A edição do Novo Testamento Grego mais amplamente usada, foi preparada por Nestle, através da Sociedade Bíblica de Stutgart (1898). Seu texto é baseado em uma comparação dos textos editados por Tischendorf, Westcott e Hort e Weiss. A obra de Nestle representa o aperfeiçoamento do texto do fim do século XIX. Sendo notável pela síntese maravilhosa do Aparato Crítico e pela precisão da grande soma de informações textuais, sua edição tem sido muito apreciada. Uma nova edição do Novo Testamento Grego de Nestle foi planejada, quando a Sociedade Bíblica Britânica comemorou seu sesquicentenário (1954). O texto foi preparado por Kilpatrick, com a ajuda de Erwin Nestle e Kurt Aland (Londres – 1958). Houve mudanças numas 20 passagens e diversas alterações na ortografia, acentuação e no uso de parênteses.

16.5 Nova Edição para os Tradutores da Bíblia

Em 1966, após uma década de trabalho por uma Comissão Internacional, cinco Sociedades Bíblicas publicaram uma edição do Novo Testamento Grego com a finalidade de ser usada pelos tradutores da Bíblia.

As edições do Novo Testamento Grego, aqui apresentadas, são as mais importantes, mas o seu número exato desde 1514 até nossos dias é difícil de ser avaliado. Bruce, cuja autoridade em problemas de crítica textual ninguém discute, calcula que mais de mil edições já apareceram.

Apêndice


O Valor religioso da Bíblia. Bíblia é, sem dúvida, um dos mais apreciados legados literários da humanidade. Contudo o seu valor não se firma de maneira substancial no fato literário. A riqueza da Bíblia consiste no caráter essencialmente religioso da sua mensagem, que a transforma no livro sagrado por excelência, tanto para o povo de Israel quanto para a Igreja cristã. Nessa coleção de livros, a Lei se apresenta como uma ordenação divina (Êx 20; Sl 119), os Profetas têm a consciência de serem portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) o os Escritos ensinam que a verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).

Esses valores religiosos aparecem não só no título de Sagradas Escrituras, mas também na forma que Jesus e, em geral, os autores do Novo Testamento se referem ao Antigo, isto é, aos textos bíblicos escritos em épocas precedentes. Isso ocorre, por exemplo, quando lemos que Deus fala por meio dos profetas ou por meio de algum dos outros livros (Mt 1.22; 2.15; Rm 1.2; 1Co 9.9) ou quando os profetas aparecem como aquelas pessoas mediante as quais “se diz” algo ou “se anuncia” algum acontecimento, forma hebraica de expressar que é o próprio Deus quem diz ou anuncia (Mt 2.17; 3.3; 4.14); também quando se afirma a permanente autoridade das Escrituras (Mt 5.17-18; Jo 10.35; At 23.5), ou quando as relaciona especialmente com a ação do Espírito Santo (At 1.16; 28.25). Formas magistrais de expressar a convicção comum a todos os cristãos em relação ao valor das Escrituras são encontradas em passagens como 2Tm 3.15-17 e 2Pe 1.19-21.

A Igreja cristã, desde as suas origens, tem descoberto na mensagem do evangelho o mesmo valor da palavra de Deus e a mesma autoridade do Antigo Testamento (Mc 16.15-16; Lc 1.1-4; Jo 20.31; 1Ts 2.13), Por isso, em 2 Pe 3.16, se equiparam as epístolas de “nosso amado irmão Paulo” (v.15) às “demais Escrituras”. Gradativamente, a partir do século II d.C., foram sendo reconhecidos os 27 livros que formam o Novo Testamento a sua categoria de livros sagrados e, em conseqüência, a plenitude da sua autoridade definitiva e o seu valor religioso.

Tal reconhecimento, que implica o próprio tempo da presença, direção e inspiração do Espírito Santo na formação das Escrituras, não descarta, em absoluto, a atividade física e criativa das pessoas que redigiram os textos. Elas mesmas se referem a essa atividade em diversas ocasiões (Ec 1.13; Lc 1.1-4; 1Co 15.1-3,11; Gl 6.11). A presença de numerosos autores materiais é, precisamente, a causa da extraordinária riqueza de línguas, estilos, gêneros literários, conceitos culturais o reflexões teológicas que caracterizam a Bíblia.

A natureza da Palavra de Deus. A expressão “a palavra de Deus” (também “a palavra do Senhor”, ou simplesmente “a palavra”) possui várias aplicações na Bíblia. Obviamente, refere-se, em primeiro lugar, a tudo quanto Deus tem falado diretamente. Quando Deus falou a Adão e Eva (Gn 2.16,17; Gn 3.9-19), o que Ele lhes disse era, de fato, a palavra de Deus. De modo semelhante, Ele se dirigiu a Abraão (Gn 12.1-3), a Isaque (Gn 26.1-5), a Jacó (Gn 28.13-15) e a Moisés (Êx 3–4). Deus também falou à totalidade da nação de Israel, no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez mandamentos (Êx 20.1-19). As palavras que os israelitas ouviram eram palavras de Deus.

Além da fala direta, Deus ainda falou através dos profetas. Quando eles se dirigiam ao povo de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o Senhor”, ou “Veio a mim a palavra do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do profeta, ouviam, na verdade, a palavra de Deus.

A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13; At 8.25).

Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do AT, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18,20,22,23,32,39; 11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia (At 3.22; Rm 10.5,19; Hb 3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bíblia era, sem dúvida alguma, a palavra de Deus. Mesmo não estando no mesmo nível das Escrituras, a proclamação feita pelos autênticos pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de Deus. Pedro indicou que, a palavra que seus leitores recebiam mediante a pregação, era palavra de Deus (1Pe 1.25), e Paulo mandou Timóteo “pregar a Palavra” (2Tm 4.2). A pregação, porém, não pode existir independentemente da Palavra de Deus. Na realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus está sendo proclamada num sermão, ou mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra de Deus escrita.

O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto de adoração (1Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus? A resposta é um “sim”. Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à avaliação por outros profetas. Todavia, há a possibilidade de tais profecias não serem palavra de Deus (1Co 14.29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”).

É somente em sentido secundário que os profetas, hoje, falam sob a inspiração do Espírito Santo; sua revelação jamais deve ser elevada à categoria da inerrância (1Co 14.3).
O Poder da Palavra de Deus. A palavra de Deus permanece firme nos céus (Sl 119.89; Is 40.8; 1Pe 1.24,25). Não é, porém, estática; é A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13; At 8.25).

Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do Antigo Testamento, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18,20,22,23,32,39; 11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia da palavra de Deus.

A palavra de Deus é a arma que o Senhor nos proveu para lutarmos contra Satanás (Ef 6.17; Ap 19.13-15). Jesus derrotou Satanás, pois fazia uso da Palavra de Deus: “Está escrito” (“consta como a Palavra infalível de Deus”; Lc 4.1-11; Mt 4.1-11).

Finalmente, a palavra de Deus tem o poder de nos julgar. Os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento freqüentemente pronunciavam palavras de juízo recebidas do Senhor. O próprio Jesus assegurou que a sua palavra condenará os que o rejeitarem (Jo 12.48). E o autor aos Hebreus escreve que a poderosa palavra de Deus julga “os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12). Noutras palavras: os que optam por desconsiderar a palavra de Deus acabarão por experimentá-la como palavra de condenação.

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